UMinho. Medicamento para artrite reumatoide passa no teste em humanos
A Universidade do Minho – através do Centro de Engenharia Biológica (CEB) e da spin-off Solfarcos –, com apoio das empresas BlueClinical e Bluepharma, "terminou com sucesso o primeiro ensaio clínico em humanos de um novo medicamento para a artrite reumatoide".
"O segredo", explica a UMinho num comunicado, "está na libertação controlada da substância ativa nas articulações inflamadas". "Isso pode permitir que a atual terapia de uma injeção semanal de metotrexato passe a mensal e com menos efeitos secundários. Vai agora testar-se uma prova de conceito em doentes, que se espera também positiva, e procurar-se investidores para outros ensaios exigidos até à autorização da comercialização da tecnologia", explica.
A inovação resulta da investigação iniciada há mais de dez anos pela equipa de Artur Cavaco-Paulo no CEB, em Braga, que já gerou duas patentes e duas teses de doutoramento ao abrigo dos projetos Nanofol e Folsmart, financiados pelos programas europeus FP7 e Horizonte 2020 e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Solfarcos promoveu em setembro o primeiro ensaio clínico em termos de segurança e tolerabilidade, com 32 voluntários saudáveis, sendo 16 homens e 16 mulheres. Contou com a BlueClinical para obter o respetivo aval junto do Infarmed e da Comissão de Ética para a Investigação Clínica e para conduzir o ensaio nas suas instalações de fase 1. Contou ainda com a Bluepharma para o fabrico, a caraterização e o controlo de qualidade do medicamento proposto.
Na prática, o novo medicamento baseia-se na molécula de metotrexato, o fármaco de referência no tratamento da artrite reumatoide e de várias doenças autoimunes e cancerígenas. Os investigadores da UMinho encapsularam o metotrexato num lipossoma (nanopartícula de gordura) que tem uma molécula sinalizadora à sua superfície para direcionar a libertação da substância ativa nos locais de inflamação, ou seja, as articulações afetadas pela artrite reumatoide. “Atua especificamente nas células doentes e as caraterísticas dos lipossomas aumentam o tempo em circulação do metotrexato, exigindo assim uma dose muito mais baixa para se produzir um efeito similar ao do medicamento que está no mercado e, por isso, gerando menos efeitos secundários”, diz Eugénia Nogueira, investigadora corresponsável pela tecnologia e diretora-geral da Solfarcos.
Embora apenas com o ensaio de prova de conceito em doentes com artrite reumatoide possa ser afirmado, os cientistas preveem que o metotrexato lipossomal permita um maior espaçamento entre doses, passando de uma injeção por semana na posologia atual para uma a cada duas ou quatro semanas. A equipa da UMinho acredita que a sua inovação “pode ter um grande impacto” nas diretrizes de tratamento da doença e nos custos associados suportados pelos sistemas de saúde. “A nossa ambição é que seja a opção de primeira linha na artrite reumatoide, porque aumenta o tempo de uso do metotrexato, que sabemos ser tão eficaz, mas apenas num período limitado devido aos efeitos adversos que se tornam intoleráveis em doentes crónicos”, acrescenta Artur Cavaco-Paulo, que é também diretor científico da Solfarcos e professor da Escola de Engenharia da UMinho.