“Deixo ficar tudo para vir para aqui, porque me venho distrair”
Maria de Fátima Machado sente que a Academia Sénior de Nespereira lhe deu “mais vida”; grata à sua filha por a ter incentivado a frequentar aquele serviço do Centro Social da Paróquia de Santa Eulália de Nespereira, a aluna de 68 anos lembra-se do quão a informática era difícil e do quanto “gostava do português” no caminho até agora firmado. “Gostei muito das aulas de português com a professora Sofia. Líamos e escrevíamos. Sei que gostava muito. Todas as alunas gostavam de português", realça ao Jornal de Guimarães, sem esquecer a ginástica, a terapia do riso e a estimulação cognitiva. “Aprendi muitas coisas de que não fazia ideia”, resume.
A estimulação cognitiva é precisamente a âncora de uma academia que se constituiu em 2010 e que se inscreveu na Associação Rede de Universidades da Terceira Idade – a RUTIS – dois anos depois. Reuniu cerca de 30 alunos no seu pico de atividade e agora tem 14, face à “restruturação interna” do projeto, que deixou de incluir a hidroginástica; essa atividade está agora ao dispor da população ao abrigo do projeto + Vida, da Junta de Freguesia de Nespereira.
"Na estimulação cognitiva, o grupo está nas nossas instalações. Enquanto psicóloga, dinamizo atividades com o objetivo de promover o treino de memória, a atenção, o raciocínio. O objetivo geral é prevenir o declínio cognitivo”, indica Mónica Oliveira, psicóloga ligada ao projeto desde o ano letivo 2011/12.
Realizada à quarta-feira, a disciplina tenta fundir o rigor e a descontração. “Tentamos que a atividade tenha rigor, mas não seja algo em que as pessoas se sintam pressionadas ou avaliadas. É uma atividade de estimulação e de bem-estar. É um momento muito valorizado pelos alunos”, sublinha a coordenadora.
Maioritariamente feminina, a academia sénior promove ainda atividades intergeracionais, reunindo a infância e a velhice em torno de dias comemorativos – os dos Santos Populares ou o Dia Internacional da Mulher. “Em abril, tivemos uma atividade alusiva ao Dia Internacional da Dança [29 de abril]. Em maio, será a comemoração do Dia da Família [15 de maio]”, ilustra.
Ciente de que será difícil a academia sénior disponibilizar o número de disciplinas que já teve, até porque “não vale a pena sobrepor atividades”, Mónica Oliveira sublinha o apego dos alunos para com o tempo que passam juntos. “Este grupo valoriza muito vir aqui à quarta-feira. É um momento em que sinto que estamos a contribuir para o bem-estar destas pessoas, intelectualmente, mas sobretudo emocionalmente”, reitera.
O testemunho de Maria de Fátima Machado corrobora essa relação: “Em casa, cheguei a ganhar depressões. Se tiver alguma coisa para fazer à quarta-feira, deixo ficar tudo para vir para aqui, porque me venho distrair. Faz bem à minha cabeça e divirto-me”, realça.