USF Moreira: troca de utentes entre médicos revertida após protesto
A 18 de outubro, João Alves deslocou-se à Unidade de Saúde Familiar (USF) de Moreira de Cónegos para marcar uma consulta com Carlos Vidal Pinheiro, o seu médico de família há 10 anos. A técnica responsável pelo atendimento disse que o utente, tal como o resto do agregado familiar era agora seguido por Paula Freitas, a mais recente profissional do centro de saúde. João Alves opôs-se, pelo que lhe aconselharam preencher um documento para voltar a ser seguido pelo médico a que estava acostumado. Quem relata o caso ao Jornal de Guimarães é a sua esposa, Maria da Glória Oliveira.
“Mudaram de doutor sem nos dar conhecimento. E então o meu marido já preencheu os papéis da família toda para ficar com o doutor Vidal. É o nosso médico de família e sabe o nosso historial”, referiu. Elogiosa para com o trabalho de Carlos Vidal Pinheiro – “é um médico cinco estrelas” -, a paciente residente naquela vila do sudoeste do concelho defende que os “utentes sem médico de família” deveriam ter sido os primeiros a ficar a cargo de Paula Freitas, médica do quadro da USF desde o início de outubro.
Embora pareça em vias de resolução, a situação alastrou-se a uma porção significativa dos mais de mil utentes sob a alçada de Carlos Vidal Pinheiro. Numa ida ao centro de saúde para marcar a consulta, Rosa Leite teve dificuldade em conter o “espanto” quando lhe disseram que o seu médico já não era o doutor Vidal. “Fiquei indignada (…). Perguntei o porquê. Disseram-me que os doentes do doutor Vidal tinham passado para a doutora Paula. Não tenho nada contra, mas ninguém me disse nada. Disse que não queria mudar. Queria o médico que me anda a seguir”, descreve.
Também residente em Moreira de Cónegos, a paciente até se mostraria disponível para a troca se Vidal Pinheiro, de 62 anos, “fosse para a reforma” ou se a USF a “tivesse avisado” para a necessidade de trocar, pelo volume de pessoas a cargo daquele profissional e por “uma questão de civismo”. Nem o facto de lhe terem dito que o médico só ia passar a estar no centro de saúde duas vezes por semana a demoveu da insistência em manter o médico de família, já que só costuma deslocar-se àquela unidade nas imediações da sede da Junta de Freguesia “uma ou duas vezes por ano”. “Por isso, preenchi o tão famoso papel a dizer que não queria mudar”, confirma.
Apesar de não ter nada contra Paula Freitas, que “pode ser uma belíssima médica”, Rosa Leite descreve Carlos Vidal Pinheiro como “bom profissional”, pronto para “qualquer eventualidade que aconteça”.
Novais de Carvalho: problema de “ordem legal” está resolvido
O diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Ave (ACES Alto Ave), Novais de Carvalho, corrobora da ideia de que Carlos Vidal Pinheiro é “um profissional excelente” e uma “mais-valia” para a USF de Moreira de Cónegos.
Mas a troca repentina de utentes deveu-se ao facto de o médico em questão não cumprir “todos os requisitos” para exercer a profissão numa USF, face à “reformulação” levada a cabo nos cuidados de saúde primários; Vidal Pinheiro não está inscrito no Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos, algo obrigatório para trabalhar numa USF.
Com a entrada de Paula Freitas para a USF no início do mês, juntando-se a Vidal Pinheiro, Eunice Gonçalves e Samuel Pedreira, o diretor da unidade, deu-se a troca de utentes. “A USF foi reforçada com um médico que cumpria todos os requisitos para pertencer à USF, e havia ali um período em que se punha em hipótese em que o médico que não cumpria os procedimentos poderia ter de mudar de unidade”, reconhece.
Novais de Carvalho reitera que o caso se deveu apenas a “aspetos de ordem legal”. rejeitando qualquer tipo de “pressão ou bullying ao médico em causa”. A equipa da USF pediu, aliás, a continuidade de Vidal Pinheiro, diz. Perante a insistência dos utentes em continuarem com o médico de família, o diretor executivo do ACES reuniu-se com os médicos de Moreira de Cónegos para “resolver o problema”, algo conseguido na sexta-feira, já que Vidal Pinheiro se comprometeu a fazer exame para integrar o Colégio da Especialidade.
“Os doentes do médico em causa podem pertencer àquele médico. Não há qualquer tipo de constrangimento. Quer a equipa no seu todo, quer os utentes podem ser atendidos sem qualquer problema. Moreira de Cónegos tem uma boa equipa”, considera.
A funcionar como USF desde 2018, o centro de saúde de Moreira de Cónegos tinha 5.681 utentes inscritos, segundo os dados referentes a setembro deste ano, com 5.090 desses pacientes (89,6%) acompanhados por médico de família e 591 sem médico de família.