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10 anos de inconformismo

José Cunha
Opinião \ sexta-feira, junho 20, 2025
© Direitos reservados
Notem que se dependesse da vontade do nosso Eco-Presidente e da sua Eco-Equipa de Revisão do PDM os danos para a sustentabilidade ambiental do território de Guimarães seriam bem mais gravosos.

Estou cansado do desgaste com que me castigo nesta cruzada romântica em que me empenhei, convicto de que poderia contribuir para um futuro melhor no território Vimaranense por via da intervenção ativa nestes artigos de opinião.

Achei eu, que o inconformismo escrutinador, que tenta fazer o contraponto à comunicação institucional do Município e revela as fragilidades do estado da arte na gestão ambiental do concelho, pudesse instigar os diversos agentes envolvidos a fazer diferente, a envolver a comunidade, e a focarem-se muito mais na substância que na imagem, como vem sendo prática.

Achei mal. Esse caminho, que pressupõe um mínimo de humildade e sentido de interesse comunitário, esbarrou de frente com a altivez e prepotência de quem governa e com a indiferença de quem aspira a governar e/ou tem o dever de escrutinar a governação.

Por isso, a somar ao cansaço, está também o desapontamento e a frustração de impotência.

Estou desapontado com alguns protagonistas políticos nos quais depositei alguma expetativa. Desapontado com o corpo técnico, seja da academia ou da esfera municipal, que se presta de forma subserviente, e por vezes com sacrifício da sua honestidade intelectual, a encontrar argumentos para justificar decisões políticas, ao invés de pugnar para que essas decisões sejam suportadas e incorporem e seu conhecimento técnico especializado. Estou desapontado com as entidades com responsabilidade de escrutínio: a Assembleia Municipal e a comunicação social. Desapontado com o alheamento generalizado dos meus concidadãos.

É deveras frustrante o sentimento de impotência que me invade ao consultar a proposta de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) de Guimarães que está em discussão pública. Apesar de ser um desastre para a sustentabilidade ambiental do nosso território, que há muito vinha a ser anunciado, ninguém teve vontade ou capacidade de o evitar.

Esta revisão do PDM (documento que é tão somente o mais importante plano estratégico de qualquer município) é uma evidência clara e grave da falácia do galardão de Capital Verde Europeia (CVE) atribuído a Guimarães. Fomos reconhecidos com esse título em boa parte por ter convencido o júri do concurso de que em Guimarães o envolvimento e participação dos cidadãos é um processo que faz parte do ADN da gestão municipal. No entanto, que envolvimento houve nesta revisão? E na discussão pública que se encontra a decorrer, quantas sessões de esclarecimento para informar os cidadãos? Sabem quantas houve em Braga?

A candidatura de Guimarães a CVE teve por ambição ser uma “cidade de um só planeta”, numa referência à responsabilidade de limitar as emissões e o consumo de recursos aos limites planetários. Mas apesar dessa declaração de intenções, o que está bem plasmado nesta proposta de PDM é uma reversão na contenção da artificialização do território com graves consequências para a qualidade de vida num futuro próximo, que também será refletida na pegada ecológica do município.

Notem que se dependesse da vontade do nosso Eco-Presidente e da sua Eco-Equipa de Revisão do PDM os danos para a sustentabilidade ambiental do território de Guimarães seriam bem mais gravosos. Mas não foi a Estrutura de Missão da CVE nem a Academia ou o Laboratório da Paisagem quem moveu a sua influência e competência técnica para limitar os danos. Essa contenção foi imposta pelas entidades que tutelam o ordenamento do território.

O que pode fazer um punhado de inconformados face a tanta indiferença e servilismo?

Após 10 anos de inconformismo, expresso em 116 artigos de opinião, e não sendo um “adeus” nem um ato de resignação, venho partilhar com os leitores que, para aliviar o desgaste e refletir sobre como e onde aplicar a energia e tempo disponível para dedicar ao bem comum, irei fazer uma pausa nesta colaboração regular com o Jornal de Guimarães.

Até um dia destes!

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