A Mulher de Guimarães
Viveu antes da criação de Portugal e foi uma personagem da História de grande poder, chegando a exercer domínios entre a zona do Minho e Coimbra. O seu nome é Mumadona Dias, Condessa do Condado Portucalense e a mulher mais poderosa do seu tempo no noroeste da Península Ibérica.
Tendencialmente, associamos mais rapidamente Guimarães a D. Afonso Henriques. Na verdade, Mumadona Dias foi uma personagem histórica com relevância extrema na génese do nosso país, apesar de muitas das vezes não lhe ser feita a devida referência.
Muito antes da Batalha de S. Mamede de 1128, a Condessa Mumadona Dias funda em Guimarães, no século X, duas construções de grande importância, que vão estar na origem da Guimarães que conhecemos hoje: o Mosteiro de Santa Maria, onde se localiza atualmente o Museu de Alberto Sampaio, e o “Castelo de S. Mamede”, assim designado no Testamento de Mumadona.
No sentido de afirmar o seu poder e proteger o mosteiro e as suas gentes de ataques invasores dos Normandos, que assolavam as costas portuguesas com muita regularidade, determinou a edificação de uma fortificação, na parte alta de Guimarães, à volta do qual se desenvolveu uma das duas vilas de Guimarães: a Vila de Cima ou a Vila do Castelo.
Tal como o historiador Mário Jorge Barroca refere, o Castelo desta época “seria muito diferente daquele que conhecemos hoje, pois eram obras incipientes, os torreões eram raros e não se conheciam as torres de menagem, sendo muitas vezes necessário o recurso à remoção de terras para criar desníveis acentuados”.
Nas suas origens, está Mumadona – a nobre Mulher pertencente à mais alta estirpe aristocrática galaico-portucalense, cujo testamento é, sem dúvida, um dos mais interessantes documentos da nossa história medieval.
Esse diploma pertencia ao Arquivo da Colegiada de Guimarães (hoje Arquivo Municipal), valioso códice que, em 1862, o Governo mandou recolher ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, juntamente com outros valiosos documentos, que eram património do Arquivo vimaranense, num total de 4.203, datados desde o século IX ao século XVI, todos estreitamente ligados à história local.
Poucas terras de Portugal poderão orgulhar-se, tanto como a cidade de Guimarães, de possuírem tão claros como autênticos pergaminhos a testemunharem concretamente a sua fundação, justamente no território onde teve lugar a formação da Pátria, no início do segundo quartel do século XII, após a vitoriosa batalha de 24 de Junho de 1128, no qual Afonso Henriques, num audacioso ato de força, consolidou a independência do Condado Portucalense.
Mumadona Dias, hoje recordada precisamente no Dia da Mulher, foi a fundadora do velho burgo vimaranense e o seu Testamento reflete a entrega das suas vilas em favor do Mosteiro de Guimarães. Aliás, a sua estátua, que este ano completa o seu 65º aniversário, reproduz precisamente isso, com o Castelo de Guimarães na mão da nossa fundadora.
Ora, talvez esteja na altura do seu testamento regressar às suas origens. Ou, pelo menos, talvez seja o momento de ser criada uma réplica pública que dignifique a importância do diploma que assinala a entrega do Castelo de S. Mamede ao Mosteiro de Guimarães, em 4 de dezembro de 968, a primeira referência conhecida à fortificação que representa o início da nacionalidade portuguesa.