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São Nicolau e o Pai Natal

Amaro das Neves
Opinião \ domingo, dezembro 24, 2023
© Direitos reservados
Na sociedade contemporânea, S. Nicolau adquiriu o estatuto de figura omnipresente do Natal globalizado que, despojado da sua dimensão religiosa, é hoje celebrado por povos de todas as partes.

Determina a tradição que não há Natal sem pinheiro enfeitado, sem Pai Natal e sem prendas. Mas, contrariando a ideia de que as tradições são quase intemporais e praticamente imutáveis, nem sempre foi assim.

No Natal dos tempos que correm, o protagonista deixou de ser o Menino Jesus. Foi substituído pelo Pai Natal, um velho com longas barbas brancas, de barriga proeminente, faces rosadas e fato vermelho, criado em 1920 por uma agência de publicidade para a Coca-Cola, com o propósito de incrementar as suas vendas durante o inverno. Na origem, estava a figura de Santa Klaus, Saint Nicholas ou S. Nicolau, o bispo de Mira do século IV, protetor das crianças que, na velha Europa, o festejavam no dia 6 de dezembro.

Na sociedade contemporânea, S. Nicolau adquiriu o estatuto de figura omnipresente do Natal globalizado que, despojado da sua dimensão religiosa, é hoje celebrado por povos de todas as partes e de (quase) todas as crenças. E não há centro comercial onde não apareça: desapossado da sua humanidade simples, austera e generosa, o santo foi transformado em ícone da sociedade de consumo.

Por sua vez, a tradição do pinheiro enfeitado poderá ter origem nas Saturnálias, festas que os romanos organizavam em calendário quase coincidente como do Natal dos cristãos. A sua associação às festividades da quadra natalícia terá surgido por volta do século XVI, na Alemanha, de onde se espalharia pelo resto da Europa. No século XIX, a árvore de Natal foi introduzida nos Estados Unidos. As prendas que se trocavam eram penduradas nos seus ramos ou colocadas à sua volta.

Entre nós, o Pai Natal e o pinheiro de Natal são tradições de importação recente. Chegaram a Guimarães quando o século XX já ia bem andado. Muito tempo depois dos estudantes terem começado a festejar S. Nicolau e a erguer o Pinheiro.

Não sabemos bem há quantos séculos os académicos de Guimarães celebram S. Nicolau, padroeiro das crianças e, por extensão, dos estudantes. Se os documentos conhecidos mostram que já o comemoravam no século XVII, a tradição deverá ser bem mais antiga. Mas é seguro que, nas primeiras décadas do século XIX, as celebrações já apresentavam um figurino próximo do atual, em que é impossível ignorar os elementos que se cruzam com os festejos do Natal dos nossos dias.

Se hoje o Pinheiro, o mastro anunciador das Festas Nicolinas, se ergue despido de adornos, antigamente, era enfeitado com as “ofertas ao Pinheiro” e as prendas arrecadadas nas Posses — o número do programa festivo que Raul Brandão descreveu magistralmente nas páginas de “A Farsa” —, que seriam partilhadas com os que comparecessem ao magusto. E as prendas, figuras centrais dos natais dos tempos modernos, estão também na distribuição das Maçãzinhas, os frutos pequenos e rosados que integram a iconografia do santo.

Antes de ser o Pai Natal, S. Nicolau já era dos estudantes de Guimarães. E continua a ser.

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