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Solidariedade Intergeracional

Eduardo Fontão
Opinião \ quinta-feira, janeiro 25, 2024
© Direitos reservados
Só que há uma coisa de que ninguém se pode esquecer: os jovens estão a começar a sua vida, e tanto o fazem aqui como noutro país que lhes dê condições dignas para trabalharem e constituírem família.

No início de 2022, quando explodiu a guerra na Ucrânia, assisti a um documentário na Netflix, chamado “Winter on Fire” – que desde já recomendo vivamente a quem ainda não teve oportunidade de assistir - que relata os acontecimentos ocorridos em 2014, no caso a manifestação do povo ucraniano na Praça Maidan, contra um regime que teimava em aproximar-se da Rússia, quando o anseio da maioria da população era que o país se aproximasse do mundo ocidental, nomeadamente da NATO e da União Europeia.

Fiquei atónito com a força daquele povo e como aqueles jovens estudantes se barricaram na praça principal de Kiev e resistiram de forma heroica a uma forte repressão policial, e como a sua determinação levou à queda do regime e à fuga do primeiro-ministro em funções para o exílio.

Mas a coisa que mais me impressionou foi ver pessoas de idade já muito avançada, avós e avôs, a saírem das suas casas e a irem também para a Praça Maidan. Questionado no documentário, um senhor que, com toda a certeza, teria mais de setenta anos, sobre a razão pela qual ia para a Praça Maidan, provavelmente para ser espancado pela polícia, respondeu que era a sua obrigação apoiar os jovens que lutavam por um futuro melhor para o seu país!

Foi deste senhor que me lembrei há dias, quando ouvi uma entrevista a uma senhora (esta portuguesa) que se dizia reformada, mas que não parecia ter mais de sessenta anos, que muito tem circulado nas redes sociais. Questionada sobre o seu sentido de voto e se acha que se deve manter o que está ou dar o lugar a outros, atira com: “Eu acho que é para manter o que está, eu já estou reformada, por isso…escândalos e corrupção é comum em todos os países. Se calhar até devemos dar um grito de revolta, mas não é por mim. Os novos que façam isso”. Logo que não me cortem a reforma como fez o Passos, e continue a dar para comprar umas raspadinhas, que me interessa que os jovens não tenham futuro e que não tenham dinheiro para saírem da casa dos pais, acho que foi o que esta senhora quis dizer.

Infelizmente, esta postura egoísta tem feito alguma escola em Portugal. Já todos ouvimos inúmeras pessoas reformadas ou perto da reforma a dizerem o mesmo. Não de forma tão velada e inocente como o disse esta senhora, claro. Mas este tipo de postura é muito mais comum do que pensamos e é de um egoísmo atroz.

Para estas pessoas, a solidariedade intergeracional só tem um sentido. Os jovens terão de viver afogados em impostos e em contribuições, porque têm a obrigação de trabalharem para sustentarem um estado social, de que provavelmente não irão beneficiar quando chegar a sua vez, em condições minimamente idênticas às que atualmente vigoram.

E se calhar ainda contribuem pouco, pois, não obstante já termos uma das maiores cargas fiscais da Europa, a máquina do estado é tão pesada, que temos o SNS, a escola pública, a ferrovia, tudo a cair de podre.

Desengane-se quem acha que com a atual estrutura etária e social do eleitorado em Portugal, irão existir mudanças, por mais que o país empobreça e que seja ultrapassado por todos os países da coesão e por quase todo o antigo Bloco de Leste.

Ainda esta semana, num artigo de Vítor Bento no Observador, é apresentado um gráfico que demonstra que 55% do eleitorado tem mais de 50 anos e mais de 60% dos eleitores tem o seu rendimento directamente dependente do estado.

Só que há uma coisa que ninguém se pode esquecer: os jovens estão a começar a sua vida, e tanto o fazem aqui como noutro país que lhes dê condições dignas para trabalharem e constituírem família.

E o que estão a fazer, é emigrar, e muito bem! Eu faria o mesmo com a idade deles.

De acordo com uma notícia desta semana do Expresso, somos o país da Europa com maior emigração, sendo que 30% da população Portuguesa entre os 15 e os 39 anos vive já fora de Portugal.

Como os compreendo, para quê ficar num país, em que a maior parte só olha para o seu próprio umbigo, e em que a sua classe política, ao invés de tentar criar condições para que o país cresça, só se preocupa em redistribuir a pobreza?

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