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Avepark e os 40 Milhões

José Cunha
Opinião \ sábado, dezembro 03, 2022
© Direitos reservados
Aqui chegados, e a Via do Avepark tida como garantida, o que sabemos dela? (...) A sua análise e o reconhecimento realizado no terreno revelaram a verdadeira monstruosidade desta via.

Ainda que não sendo um conto das Mil e Uma Noites, a história da Via do Avepark não deixa de ter muita fantasia, um enredo que merece ser conhecido, e até quem sabe se não terá um final com ensinamentos proveitosos para o futuro.

Eu diria que a fantasia começou com os ditos “estudos” da Universidade do Minho a justificar a Via e o trajeto que já estavam definidos pelo município, e que continuou ao longo destes sete anos, moldando essa justificação aos requisitos do mecanismo que a iria financiar. Um projeto que, de início, era justificado pela necessidade de mover pessoas com rapidez, é agora sustentado pela necessidade de escoar mercadorias, e em nome de conceitos subjetivos (e que servem para tudo!) como a “coesão territorial” e a “atratividade”.

Se a Via do Avepark sobreviveu até agora, não foi pela racionalidade ou mérito do projeto, mas pelo recurso a muita “fantasia” e por um enredo em que a persistência do presidente da Câmara de Guimarães e a sua capacidade de mover influências nos bastidores políticos do seu partido tiveram papéis preponderantes.

Mas aqui chegados, e a Via do Avepark tida como garantida, o que sabemos dela?

Foi para lançar alguma luz sobre essa obscuridade que a AVE – Associação Vimaranense para a Ecologia requereu o acesso a estudos e projetos. A sua análise e o reconhecimento realizado no terreno revelaram a verdadeira monstruosidade desta via.

São 7 quilómetros de estrada quase sempre em aterro ou em escavação, esventrando montes com taludes que chegam aos 20 metros, ou dividindo e inutilizando campos agrícolas com taludes até 14 metros de altura. Cerca de 62% da extensão da via será em solo pertencente à Reserva Agrícola Nacional, correspondendo a uma área de 111.390 metros quadrados. O projeto prevê uma ponte sobre o rio Ave com 266 metros, comprimento que daria para unir o Museu de Alberto Sampaio às torres da Igreja de São Gualter. Isto são apenas números, mas podem estar certos que verificar no local o que será perdido é bem mais assustador.

Outra fantasia (ou ilusionismo) foi pensar (ou fazer crer) que o custo da obra se ficaria pelos 13 milhões de euros. No entanto, e numa revelação bem recente feita por via do documento das Grandes Opções do Plano e Orçamento para 2023, ficamos a saber que “a Via do Avepark se encontra em fase de renegociação com o Governo e PRR”, e que a estimativa global da obra não são os 12,6 milhões já protocolados mas o seu triplo: 39,5 Milhões.

Este valor absurdo, e em especial para quem não seja sensível aos argumentos de sustentabilidade ambiental, deve servir para questionar a racionalidade e sustentabilidade financeira deste projeto. Como se vai conseguir fundo de maneio para o investimento? E a conseguir, que outros projetos serão preteridos? Teremos capacidade para investir em Transporte Público em Via Dedicada num espaço de tempo tão próximo?

Existe uma conjugação de estudos e possibilidades de investimento que nos deveria levar a repensar a Via do Avepark. Contudo, a obstinação de quem nos governa não deixa antever qualquer iniciativa nesse sentido, não restando outra alternativa aos que se recusam a abdicar do “direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado”, que não seja a de exercer o seu “dever de o defender”, conforme inscrito e prescrito na Constituição da República Portuguesa.

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