Carta de (um) Pai… que já foi filho!
Mãe há só uma, mas Pai também! “Gostas mais do Pai ou da Mãe?”, perguntavam-nos cruelmente quando ainda pouco falávamos e naquele momento, por momentos, conseguiam mesmo deixar-nos sem… fala nenhuma!
Outros tempos.
Quando somos filhos, achamos que ainda falta muito para sermos pais. E temos uma tendência natural para vivermos a vida como filhos: sem grandes preocupações. E bem! Afinal, nessa altura, ainda somos filhos.
Acontece que a vida é um sopro. Basta perdermos um Amigo, uma pessoa conhecida, um familiar, uma Mãe ou um Pai! Tudo muda. Muda a nossa personalidade. Muda a forma de pensar. Mudam as prioridades. Muda o modo de ver o mundo.
Todos os dias, temos a oportunidade de escolher qual o caminho que queremos percorrer. Ensinamos pelo exemplo e não pelo que dizemos. De cada vez que abrimos os olhos para encarar um novo dia, aquele nanossegundo antes de colocarmos os dois pés no chão, é uma ocasião para escolhermos que pais vamos ser para os nossos filhos nesse dia.
E nem nos apercebemos disso! Porque as rotinas imperam e ganham lastro. Sem intenção, há uma tendência de negligenciar as coisas mais simples, as coisas mais importantes. As coisas que verdadeiramente deveriam ocupar o nosso tempo, o nosso pensamento, o nosso âmago. Trabalhamos horas infinitas a idealizar projetos, a estruturar ideias, realizações, mas os nossos filhos, na realidade, são o nosso melhor projeto.
Se estiver a achar que esta é uma verdade palaciana, volte a ler o parágrafo anterior. Agora, pode continuar a ler o texto.
Os nossos filhos precisam mais de nós do que precisam de brinquedos ou de atividades extracurriculares. Nós somos aqueles com quem eles preferem estar. Com quem preferem brincar. Basta parar um pouco e refletir, com sinceridade, nesta questão, sem necessidade de uma resposta imediata: quantas são as vezes que eles nos convidam e nós recusamos, absorvidos pelas nossas rotinas, marionetados pelos nossos horários?
Os nossos filhos precisam, acima de tudo, de nós. Da nossa presença, da nossa compreensão, do nosso afeto, especialmente quando falham ou nos desiludem. Precisam que entendamos o seu universo para vivermos nele. Precisam que tenhamos o coração aberto à transformação dos nossos hábitos e rotinas. A forma como interagimos com eles vai determinar as memórias de infância e influenciar as suas competências emocionais na vida adulta.
Claro que todos os pais querem o melhor para os seus filhos. A melhor educação, as melhores oportunidades, as melhores escolas. Nunca se ouviu um Pai a dizer: “Fiz assim, porque era o pior para o meu filho!”. Todos os nossos atos procuram o melhor. Mas aquilo que teremos dos nossos filhos ao longo da vida são os frutos do que semearmos na sua infância. O futuro vai depender daquilo que lhes ensinamos a valorizar, a apreciar.
Cada pequeno hábito que partilhamos com os nossos pais é o que nos transforma na vida. E há sempre uma razão para tudo aquilo que nos acontece. Há sempre uma lição a ser aprendida. Cada dia, é um novo dia, uma oportunidade para começar de novo, uma oportunidade para nos reinventarmos.
Feliz Dia do Pai!