Construam, e eles virão…
Imortalizada pelo filme Field of Dreams onde Kevin Costner foi protagonista, a expressão “construam, e eles virão”(built it, and they will come) tem sido usada para ilustrar a ideia chave da Teoria do Tráfego Induzido, ou seja, quanto mais estradas, mais automóveis.
De facto, e apesar de à partida parecer um contra-senso, o que esta Teoria advoga é que os melhoramentos na capacidade da rede viária, que habitualmente têm por objetivo resolver problemas de congestionamento, vão, tendencialmente, gerar ainda mais congestionamento.
Diz esta Teoria que com a capacidade adicionada à rede, o tráfego será (temporariamente) mais fluido, proporcionando viagens mais rápidas e confortáveis, e por essa via uma melhor oferta no serviço, o que por sua vez irá gerar novos utilizadores. É a esse incremento de tráfego de novos veículos (procura latente) que não ocorreria sem o melhoramento da capacidade da rede que se dá o nome de Tráfego Induzido, e é ele que será responsável por saturar a rede e repor o congestionamento, com a agravante de passar a ser com mais carros.
Nesta, como em muitas outras teorias, existem diversas variáveis que condicionam a sua tese, e existem defensores e detractores. No entanto, ela é reconhecida, estudada e considerada no planeamento rodoviário do Reino Unido, e não são conhecidos exemplos em que o aumento da rede viária tenha resolvido, por si só, qualquer problema de congestionamento.
Vem esta teoria a propósito da “revolução viária” operada em Silvares para descongestionar o trânsito, que é bem representativa da política de mobilidade do Município de Guimarães que dá ênfase e investe recursos no melhoramento da capacidade da rede viária, num convite contínuo, explícito e indisfarçável ao uso do automóvel.
Creio que será previsível que a denominada zona terciária de Silvares, por muitas estradas que a sirvam (ou precisamente por isso), venha a ser uma zona muito mais congestionada que antes desta “revolução viária”. O tráfego induzido terá a sua quota-parte nesse processo, mas a maior responsabilidade caberá à atratividade de deslocações da zona e à confluência de acessos de outros pólos que procuram a ligação à autoestrada.
Precisamos de uma nova abordagem no planeamento dos transportes e urbano que esteja centrada nas pessoas e lugares e não nos carros, permitindo uma maior eficiência, bem-estar e proteção ambiental.
Os defensores da Teoria do Tráfego Induzido afirmam que ela também se aplica a outras formas de transporte que não o automóvel, por isso, “construam, e eles virão…”