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Desporto como lugar e tempo de igualdade e de liberdade (continuação)

Francisco Oliveira
Opinião \ sexta-feira, agosto 22, 2025
© Direitos reservados
Lembram-se do caso Marega? Eu lembro-me de ver um jogador a portar-se mal com os adeptos do Vitória, provocando uma revolta nos adeptos do clube que o tirou da sombra.

Esta violência, e a sua nova organização e motivação, torna o fenómeno desportivo (e não só no futebol) um lugar e um tempo perigoso, que tem afastado, ou, potencialmente, pode afastar, muitos adeptos e sócios do fenómeno desportivo. Usam táticas de cariz militar e influências locais, nacionais e internacionais, para alcançar os seus desideratos. Estão associados ao crime organizado (sobretudo ao tráfico de drogas) e movimentos das extremas políticas, mesmo que a maioria sejam da extrema--direita, também os existem da extrema-esquerda. Gozam de estatuo especial nos clubes ou mesmo da complacência dos seus dirigentes. E não raras vezes são uma força pretoriana dos clubes e dirigentes. Conseguem, com e sem influência, operações de vigilância e contravigilância das forças policiais, e de outras autoridades do fenómeno desportivo. Muitos destes agentes da violência têm cadastros de cariz verdadeiramente assustador, como crimes de roubo, extorsão ou tráfico de droga. E, sobretudo, de grande violência. São elementos de claques, organizadas e não organizadas (o que não quer dizer que todos os elementos de claques sejam violentos), são os perigosíssimos casuals com as suas vestes pretas em carrinha descaraterizadas, ou outros que já se perfilham na linha da próxima vaga de violentos e aproveitadores do fenómeno desportiva para fazerem mal, e ganharem dinheiro com tais atitudes. E a legalização das claques, as que o fizeram, e outros ousaram, e com sucesso, recusar tal registo, pareceu-me mais uma formalidade do que uma verdadeira ação por termo à violência e regular, para extirpar, o fenómeno que nega ao desporto a igualdade e a liberdade.

O estádio Dom Afonso Henriques, por causa do fervor dos seus adeptos, e de ser o único estádio nacional onde os três ditos grandes nunca conseguem ser a maioria, é sempre (e esta é a perceção de qualquer adepto e sócio do Vitória) muito noticiado pela vigilância e atuação policial, e das multas das ditas organizações que devem promover e proteger o futebol. Em 21 de julho de 2024, jogo da Conference League, vimos uma atuação vergonhosa das polícias, o que despoletou na bancada cenas lamentáveis e que prejudicaram o Vitória Sport Clube. Apontar uma shotgun aos adeptos na bancada! Viu-se alguma indignação nos meios de comunicação social portugueses? Nada! E porquê? Porque não foi nem em Lisboa, nem no Porto. Mas foi no estádio do clube de futebol que diretamente pode competir com estes. A ação policial, muito desastrosa, e pondo em causa a integridade física de homens, mulheres e crianças. Alguém vê isso quando estes nos visitam, destroem e insultam? Nunca! E as ditas autoridades do futebol carregam-nos com multas, pelo mau comportamento dos visitantes. Que até roubos fazem debaixo do nariz das autoridades. A polícia denuncia a sua inaptidão para lidar com este fenómeno de violência (muitas vezes provocada pela sua ação), mas está a leste da violência organizada que rodeia o desporto (de modo particular, entre nós, no futebol). De onde vem esta disparidade de julgamento e ação? Mas, apesar de tudo, não nego que há adeptos e sócios, mesmo no Vitória, que se tornaram especialistas nestas desavenças violentas. Contudo, parece-me estranho a benevolência com os adeptos dos três ditos grandes e a perseguição ao adepto de clubes, com adeptos verdadeiramente apaixonados pelo seu emblema, como os adeptos e sócios do Vitória.

Lembram-se do caso Marega? Eu lembro-me de ver um jogador a portar-se mal com os adeptos do Vitória, provocando uma revolta nos adeptos do clube que o tirou da sombra. Claro que não nego o racismo entre os adeptos e sócios do Vitória, mas nego a tentativa de apelidar os adeptos, como um todo, do Vitória de xenófobos e nazis. Eu já me zanguei com comentários racistas de consócios do meu clube, e entendo que o medo do outro é, infelizmente, algo muito comum na humanidade (que não é composta por raças, mas por pessoas). E, também me lembro, do arruaceiro treinador do FCP pedir ao atleta para se manter no campo e agravar a situação. Um triste espetáculo que os tribunais desmentiram e que, mais uma vez a comunicação social e as virgens ofendidas do costume (vulgos, comentadores) não fizeram eco. Mas em 2022, a Porto Editora, supostamente prestigiada instituição, num manual de Filosofia apresentava o Ágora, onde o Caso Marega era abordado pelo juízo ético de Bento Rodrigues, pivô de telejornal (que nunca se retratou), no seu discurso – tido como inspirador (falta saber ao serviço de quem; enfim, faço-me de inocente para não dizer o óbvio) sobre os factos de 2020 no estádio Dom Afonso Henriques. E, mais de dois anos depois, a Porto Editora omite a absolvição do clube, de só de três adeptos terem sidos obrigados a pedirem desculpas (quando todos e todas éramos racistas e nazis!!!) e pagarem três mil euros ao Estado, ousou publicar a verdade do establishment e, numa instituição que gozava de bom nome, prestava-se a servir a meia verdade dos que não gostam do vitória. Porquê? Segundo o meu pensamento, porque somos os únicos a fazer sombra a hegemonia dos 3 ditos grandes. E depois é a treta do pedido de desculpas, como um coro de virgens altamente corrompido pelo vício do poder. E já agora, porque é que o atleta não pediu desculpa, ou o treinador e o clube que representava não se sujeitaram à mesma atitude?! Como será possível a igualdade e liberdade se os que deviam ser imparciais e desapaixonados nestes casos, revelam a sua parcialidade e atiçam ódios e atitudes violentas?! Esta perceção de injustiça gera, como sempre gerou, violência.

A violência que, ao contrário do que a mentalidade moderna pretendeu convencer-nos, não diminuiu, mas é sim uma realidade que tentaram purgar na humanidade. Acreditamos que a educação seria suficiente para isso. Como se o saber ler e escrever, o ser capaz de compor belíssimas melodias e escrever romances esplêndidos, pudessem revelar o melhor de nós e, mesmo que paulatinamente, fizesse desaparecer o pior de animalidade que existe em cada um de nós. Depois, ficamos escandalizados, como se tal não fizesse parte da nossa humanidade – capaz do melhor e do pior, como o mostra à saciedade a história humana. O que existe, isso sim, é uma maior reprovação social da violência, fruto do processo civilizacional que a modernidade (séculos XVII-XIX) cultivou nas nossas mais profundas convicções: agora é sempre em frente, a evoluir, até ao super-homem de Nietzsche. A televisão e as redes sociais, por outro lado, fazem com que a perceção da violência seja diversa da realidade. Os discursos tóxicos, sempre presentes, pedem boas medidas (e com dimensão humana) no combate contra a violência e o crime, uma boa promoção ética e dos valores históricos do jogo, e o são convívio entre os adversários (e não inimigos), relativizando o jogo, são os passos fundamentais para promoverem a igualdade e liberdade no desporto e na atividade física.

 

(Continua...)

Guimarães, 16 de agosto de 2025

Pe Doutor Francisco de Oliveira

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