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“Devia de haver Gualterianas todos os meses!”

Vítor Oliveira
Opinião \ sábado, agosto 03, 2024
© Direitos reservados
As origens das Festas da Cidade de Guimarães. Do passado ao presente. E com futuro.

Há mais de 100 anos, não havia em Guimarães uma grande celebração coletiva que envolvesse a comunidade vimaranense e que, ao mesmo tempo, atraísse gente de fora. A identidade e o bairrismo estavam consolidados, mas faltava algo. Na altura, outras terras tinham já o seu programa de festas, com o São João, de Braga, a ganhar dimensão – o que realçava e fazia sobressair a lacuna vimaranense.

Em 1895, ressurgiram as Festas a São Nicolau. Muitos consideraram que poderiam transformar-se nas Festas da Cidade, que os vimaranenses procuravam. A ideia acabou por não vingar, uma vez que as Nicolinas eram festas exclusivas dos estudantes e tinham pressupostos muito próprios e condicionantes peculiares que a comunidade estudantil não abdicava.

As atenções viraram-se para o São João, que em Guimarães não tinha especial tradição. Mas que podia ter! Por altura de 1900, houve duas grandes festas. Nenhuma se afirmou para ser… a nossa! Os jornais passaram a defender a necessidade de reabilitar a Feira de São Gualter. Seguiram-se várias tentativas, até que em 1906 a Associação Comercial e Industrial de Guimarães faz renascer a velha feira e, com ela, as Festas da Cidade e… Gualterianas!

A partir de então, no início de julho, já se faziam as marcações de terrenos no Campo da Feira para a instalação de barracas e de comerciantes. Na feira, além do gado, prevaleciam magníficos exemplares de cavalos, muitos deles trazidos de fora, alguns mesmo de Espanha. Nas tabernas e casas de pasto, reinava a vitela assada – costume gastronómico que acabaria por se perder.

Ao longo dos anos, foram gerações e gerações de famílias que viveram a tradição junto ao Campo da Feira, onde se venerava o santo no primeiro fim de semana de agosto – momento do ano em que se passou a realizar a feira, provavelmente em referência à transladação das relíquias de São Gualter, que ocorreram no primeiro domingo de agosto de 1577, como bem recorda o nosso historiador António Amaro das Neves.

A caminho dos 120 anos, as Gualterianas são hoje uma marca identitária incontornável de Guimarães. Um legado que continua a passar de geração em geração. “Devia de haver Gualterianas todos os meses!”, disse-me, em tom de clemência, a minha Maria Manuel, de 9 anos, quando visitamos as festas, na semana passada, enquanto partilhávamos, em família, uma dúzia de farturas – que mais pareciam dúzia e meia! O legado continua a ser cumprido. E as Gualterianas, com uma necessária reinvenção, têm mesmo futuro.

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