Entre o Passado e o Futuro
A rentrée política local trouxe boas notícias a Guimarães. A extensão da Zona Classificada pela Unesco como Património Cultural da Humanidade a Couros e o por agora Top 3 das cidades europeias ambientalmente responsáveis com boas expectativas para o galardão de “Capital Verde” são matizes que abonam em favor do orgulho identitário que os vimaranenses invariavelmente albergam na sua garbosa investidura.
Sem, portanto, desmerecer, antes enaltecendo, há necessidade de – enquanto comunidade – refletir sobre o “Estado da Arte” e o que pretendemos que Guimarães venha a ser, ou, tão só, continue a ser. Isto é, uma urbe cristalizada com glorificações passadas, ou com rasgo e um pé no futuro.
Partamos, então, de um balanço das últimas governações do PS que é quem lidera o município desde o século passado.
Magalhães – não caberá nesta análise a dimensão ética – aproveitou o período de crescimento “Cavaquista” que o país viveu para empreender um conjunto de equipamentos que comparam bem com o que os outros municípios em redor também levaram a cabo. Concluiu, maioritariamente, a dimensão cultural nas vertentes patrimoniais e imateriais.
Bragança e o seu legado – sendo justo, faltará a análise em perspetiva que só o tempo dá – terá a colher, “grosso modo”, uma componente de aperfeiçoamento e preservação do patrimonial, acrescentando-lhe uma dimensão telúrica pela incidência na preocupação ambiental. E, sendo Bragança o melhor que os socialistas têm - não restando nos “cartões-de-visita” imanentes nenhuma novidade – estamos perante uma bifurcação que levará os vimaranenses ao espelho: faremos o “ritual de passagem”?
O título desta crónica, aponta para um escrito de Hannah Arendt que no essencial nos descreve « (…) as crises que a sociedade moderna enfrenta como resultado da perda de significado de palavras como justiça, razão, responsabilidade, virtude, glória. Depois mostra-nos como podemos voltar a pensar a essência vital destes conceitos tradicionais e como usá-los para avaliar a nossa situação presente, estabelecendo novos padrões de referência para o futuro».
Ora se Guimarães é orgulhosamente a “pátria da pátria” e uma encantadora e salubre cidade bucólica, pretende manter-se no registo das “velhas glórias” de que se alimentaram, no essencial, as governações maioritárias do PS local, ou – por seu turno – conseguirão os vimaranenses “mudar a agulha” do edificado ao personificado numa versão de modernidade que sem ofender o passado – agradecendo-o e resguardando-o, até – entreveja o futuro?
Guimarães continua com:
- Habilitações literárias modestas.
- Baixos salários e parca mobilidade social.
- Muita mão-de-obra em indústrias de setores ditos tradicionais.
- Baixa competitividade tecnológica e fiscal face aos vizinhos.
- Contração demográfica.
E podia, infelizmente sem esforço, continuar até ao fim do alfabeto.
O paradigma tem, a meu ver, de passar do “Património” às Pessoas, da “Capital Verde” ao Capital Humano.
O PSD, como força motriz da oposição democrática, agregando-a e sob a batuta de Ricardo Araújo, bem pode ser a última esperança de uma geração que viu Guimarães com dimensão e que não se conforma em perdê-la, dotando-a da modernidade que impera não muito longe de nós.
Veremos, quão baço estará o espelho que os socialistas deixaram para a nossa “autopsicografia”.