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Este país não é para licenciados

Eduardo Fontão
Opinião \ segunda-feira, setembro 05, 2022
© Direitos reservados
De que nos vale o investimento no ensino superior, quando depois não conseguimos desenvolver negócios capazes de rentabilizar os conhecimentos adquiridos?

Há cerca de um ano, escrevi aqui, neste jornal, um texto intitulado “Guimarães – n.º 1 em retail parks”. Nessa crónica, descreviam-se as vantagens associadas a um modelo económico que, na minha opinião, se adaptaria na perfeição às especificidades do nosso concelho: a aposta num “cluster” de superfícies comerciais de média e de grande dimensão, grossistas ou de retalho, como fator diferenciador e motor do desenvolvimento económico do concelho. Abordei ainda como este modelo potenciaria a criação de postos de trabalho (ainda que não muito qualificados), bem como o papel fundamental que poderia desempenhar na redução do desemprego jovem.

No referido texto que, nunca é de mais frisar, foi escrito de forma satírica, pretendia-se, com ironia, chamar a atenção para o enorme défice de empresas que criem valor acrescentado no concelho de Guimarães, e que por essa via possam remunerar os seus trabalhadores, nomeadamente os jovens licenciados de forma justa e adequada, permitindo-lhes constituir família, adquirir uma habitação digna e o acesso a um nível de vida em linha com os padrões europeus.

Qualquer um destes objetivos está muito longe de ser atingido, seja em Guimarães, seja no resto do país: no passado mês de junho, o Eurostat publicou os dados da distribuição do rendimento na União Europeia. Pela análise dos dados publicados, rapidamente se conclui que há uma tendência crescente na economia portuguesa de aproximação dos salários dos licenciados em relação aos salários dos que apenas possuem o ensino básico ou secundário.

No período entre 2010 e 2020, o vencimento médio (ajustado à paridade do poder de compra) dos licenciados em Portugal sofreu uma redução de aproximadamente 6% (menos 1.422€), quando quem tinha o ensino secundário viu o seu salário aumentar em 5% (mais 703€) e quem apenas tinha o ensino básico viu o seu rendimento médio crescer 11%!

Se compararmos o salário de um não licenciado (apenas com o ensino secundário) em 12 países da UE com o de um licenciado em Portugal, chegaremos à conclusão de que não só um cidadão não licenciado de qualquer um destes países recebe mais do que um licenciado em Portugal, como o salário de um licenciado em Portugal diminuiu entre 2010 e 2020, enquanto o vencimento de um não licenciado crescia em TODOS estes países no mesmo período.

Também o relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências”, recentemente publicado, contém afirmações como: “Os ganhos de rendimento associados a maiores níveis de qualificação são claros, mas estão em queda” e “a educação continua a compensar, mas cada vez menos”.

Em suma, e cada vez mais: este país não é para licenciados!

Agora a questão que tem de se colocar é: de que nos vale o investimento no ensino superior, gastar-se tanto tempo e dinheiro com licenciaturas, mestrados e doutoramentos, quando depois não conseguimos desenvolver negócios capazes de rentabilizar os conhecimentos adquiridos?

Só se a ideia for transpor o modelo utilizado nas academias de futebol (que tão bons resultados têm apresentado) para as Universidades e começarmos a formar os nossos jovens, já com o intuito de os transferirmos no final do curso, para países que joguem na Champions. Com os jogadores de futebol tem funcionado!

Tudo isto até podia dar vontade de rir, não fosse o caso de os nossos impostos estarem a ser gastos na educação da geração mais qualificada de sempre, quando serão depois outros países a lucrar com as suas capacidades, porque Portugal não é capaz de o fazer.

Mas nem tudo é mau: estamos a atingir uma espécie de coesão social, só que nivelada pela base.

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