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Gerir o estacionamento

José Cunha
Opinião \ terça-feira, junho 20, 2023
© Direitos reservados
Esta forma de gerir o estacionamento em função da popularidade das medidas não pode continuar a ser admissível pois constitui uma desastrosa entropia à mobilidade sustentável.

É já quase um lugar-comum no discurso político reconhecer o combate às alterações climáticas como a grande batalha dos nossos tempos. Assim como é consensual reconhecer o aquecimento global como o principal responsável por essas alterações, bem como o contributo das cidades para esse aquecimento. Ainda assim, e apesar do discurso do “pensar global e agir local”, é grande a resistência de muitos responsáveis políticos em fazer a parte que lhes compete enquanto decisores de base territorial.

Ora, considerando que uma boa fatia do contributo das cidades para o aquecimento global resulta da emissão de gases com efeito de estufa no setor dos transportes, seria de esperar um maior compromisso dos eleitos locais para com a mobilidade sustentável, promovendo políticas integradas que reduzam o uso do automóvel privado e incentivem o transporte público.

Nesse sentido, o que as orientações e as boas práticas, sejam europeias ou nacionais nos dizem, é que a tão desejada mobilidade sustentável só é atingível pela sinergia e articulação das suas várias componentes como sejam o transporte público, o ordenamento do território, o desenho do espaço público ou a gestão do estacionamento.

É obvio que essa articulação é tão mais fácil e eficaz quanto maior for o controlo exercido sobre as componentes, e se em Guimarães essa tarefa está mais complicada na gestão dos transportes públicos pela concessão dos TUG, o mesmo não se pode dizer da gestão do estacionamento.

De facto, apesar da “promoção, gestão e fiscalização” do estacionamento público urbano de Guimarães estar concessionado à Vitrus através de contrato programa, o controlo dessa componente da mobilidade permanece no poder municipal, não se compreendendo a falta de execução das ações previstas no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) no capítulo do estacionamento.

Estão em falta os parques periféricos e as medidas de combate ao estacionamento ilegal, e não se reconhece a coerência nem a eficácia da política tarifária para o objetivo estratégico de “racionalizar a oferta de estacionamento no centro da cidade”.

O que se tem verificado é uma política de “tarifas reduzidas, quando comparadas às de outras cidades” (como é anunciado na página oficial da Vitrus), havendo mesmo a isenção (subsídio) das primeiras duas horas no parque de Camões. Esta enorme oferta a baixos custos, acrescida da falta de fiscalização que permite estacionamentos ilegais, constituem um convite explícito ao uso do automóvel privado para aceder ao centro da cidade.

É notório que esse convite não foi rejeitado pelos vimaranenses, como o demonstra o aumento do sentimento de insegurança de quem como eu caminha com frequência na cidade, ou de uma forma mais objetiva, o demonstra o aumento do recurso ao automóvel como o principal modo de transporte nas deslocações pendulares em Guimarães (10% entre censos 2011-2021), ou ainda o brutal aumento no consumo de combustíveis.

Esta forma de gerir o estacionamento em função da popularidade das medidas não pode continuar a ser admissível pois constitui uma desastrosa entropia à mobilidade sustentável, e por essa via, um passo atrás na mitigação das alterações climáticas.

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