Guimarães no coração
Há o primeiro mês do ano. O mês do carnaval, da Páscoa ou das férias. O mês do nosso aniversário, do regresso às aulas ou o mês do natal. E há o mês do amor ou do coração. Que pode ser religiosamente em maio, mês de Maria, ou em fevereiro, imortalizado por São Valentim.
Em Guimarães, é mês do coração todos os dias e ficamos de coração cheio que assim seja. Afinal, o coração tem razões que a razão desconhece e, muitas vezes, o que é preciso é falar ao coração.
É ele que está presente todos os dias em cada vimaranense, que fala apaixonadamente da sua cidade ou sobre o que lhe vai no… coração! Parte-se-nos o coração imaginar não viver na cidade que, há uma década, adotou um coração para identificar o maior evento cultural da Europa: a CEC 2012. A mesma cidade que, a partir daí, tatuou um coração na comunicação institucional do Município.
O coração fala (sempre) mais alto. Amamos Guimarães e ficamos com o coração dividido quando temos de preferir entre o Largo da Oliveira e a Praça de S. Tiago. Ou entre o Castelo e o Paço dos Duques. Ou o Toural e a Penha, o coração e o pulmão da cidade, respetivamente. Guimarães está aqui, no coração! De quem nela vive e de quem dela a visita. Cabem todos… nas suas artérias.
Por essa mesma razão, ficamos com o coração em pedaços quando lhe ouvimos uma crítica. Até a podemos julgar, tentar corrigir, assinalar o que a poderia melhorar, mas ficamos com o coração apertado quando nos confrontam com algo que nos atinja o… coração!
Não somos de ignorar, mesmo sabendo que, neste mundo, há pessoas sem coração. Quando isso acontece, passamos a ter o coração perto da boca e, com o sangue a fervilhar, defendemos o que é nosso, sem qualquer problema em falar com o coração. Podemos ir de férias, viajar ou, até, emigrar. O coração, esse, vai bater sempre por Guimarães.
Quem age por sentimento, claro que pode errar! Afinal, o coração está do lado esquerdo, porque não faz nada direito, não é? Mas sentirá sempre o prazer de ter agido por si mesmo, sem freios, nem receios. E, quando se age por amor, aí o erro é ainda mais prazeroso. É sagrado.
“Se o coração pensasse, pararia!”, já dizia Fernando Pessoa. O coração não pensa, ele age. E quase sempre acerta, mesmo nas situações mais aflitivas, quando se está com o coração nas mãos. Deve-se evitar, pois, magoar o coração. Não por receita de médico cardiologista, mas pela voz sábia dos antigos e de quem sabe que o coração é o único órgão do corpo onde as células cancerígenas não entram.
Nunca ouvimos dizer que determinada pessoa faleceu com um “cancro no coração”. Um dia, e haverá sempre um dia, o coração vai parar. Como esta crónica, que também tem um fim. Se entretanto conseguiu chegar até esta parte, provavelmente o texto poder-lhe-á ter tocado… o coração! E terá deixado (mais e novos) descendentes a pulsar por Guimarães. A si, que leu, obrigado. De coração.