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Guimarães – Nº. 1 em Retail Parks

Eduardo Fontão
Opinião \ sexta-feira, outubro 01, 2021
© Direitos reservados
A minha amiga, um pouco incrédula, perguntou-me: Então, mas Guimarães não tem localizações/terrenos disponíveis, preparados para oferecer a um investidor que pondere instalar-se no concelho (...)?

Estava prestes a refastelar-me numa espreguiçadeira de uma praia Algarvia, depois de um ano particularmente cansativo, dando início formal às hostilidades balneares de 2021, quando o meu telemóvel começou a tocar. Era uma amiga minha do outro lado, que me questionava se, por acaso tinha conhecimento de algum terreno, próximo da entrada da autoestrada, com aproximadamente 80.000 m2 e afectação industrial, pois tinha um cliente interessado em instalar uma indústria, no triângulo Guimarães, Famalicão, Santo Tirso.

Respondi-lhe que seria difícil, mas que ainda assim iria contactar algumas pessoas. Confirmou-se: não encontrei nenhum terreno disponível dentro do pretendido e disso mesmo lhe dei conta. A minha amiga, um pouco incrédula, perguntou-me: Então, mas Guimarães não tem localizações/terrenos disponíveis, preparados para oferecer a um investidor que pondere instalar-se no concelho, adequado às caraterísticas exigidas, assim trazendo negócios com valor acrescentado e criação de postos de trabalho qualificados?

Respondi-lhe que, se calhar não tem e nem teria lógica que tivesse, na minha opinião. Tenho uma visão diferente da tua para o concelho. Ela cometeu o erro de querer saber qual era e lá tive de perder 5 minutos a explicar-lha:

Se reparares é hoje comum que cada cidade potencie os seus fatores diferenciadores. Basta fazeres a EN 2, para perceberes que se faz do km 578,75 um local de culto. É tudo uma questão de posicionamento e branding. Em Guimarães deveríamos apostar em sermos o nº 1 em retail parks (hipermercados/shopping centers e outras médias e grandes superfícies), alocando o máximo de área possível a este nosso “cluster” de superfícies comerciais. Pensa nas imensas vantagens associadas:

Para quê perder tempo e dinheiro com gabinetes de apoio ao investidor, de captação de negócios, com parcerias entre a academia a as empresas, quando o maior empregador dos nossos jovens licenciados são comprovadamente as grandes superfícies comerciais. Poupamos tempo, trabalho, dinheiro e resolvemos o flagelo do desemprego jovem.

A minha amiga não ficou muito convencida e retorquiu: não sei se essa estratégia se vai revelar a indicada a médio e longo prazo. As grandes superfícies não criam habitualmente emprego muito qualificado ou especialmente bem remunerado. Como é que os jovens que essas superfícies vão contratar no final das suas licenciaturas irão depois ser remunerados por forma a que possam sair de casa dos pais, constituir família, ter filhos e adquirir a sua própria casa? E o comércio de rua, como vai sobreviver?

Tenho solução para todos esses problemas. Adquirir uma habitação própria vai ser difícil, mas por outro lado, teremos mais gente a qualificar-se para receber uma habitação social (repara que em 2001, 4% dos Portugueses auferiam o SMN e em 2019 já são 22%). E ainda há pouco tempo, esteve cá o ministro e anunciou fundos do PRR para a construção de habitação a custos controlados.

E quem não vai querer constituir família e ter muitos filhos, com um relvado sintético em cada freguesia e a possibilidade de sair de uma dessas incubadoras um Ronaldo ou um Messi?

O comércio local vai ter de se adaptar. Se calhar já era tempo. Desde sempre que oiço dizer que Guimarães não é grande “praça” para o comércio. E para quê manter artificialmente negócios ineficientes? Não te lembras do processo de destruição criativa de Schumpeter que aprendemos na faculdade? Eliminam-se os empregos nas empresas que não conseguem inovar e reinventar-se, e criam-se novos e melhores.

A tua estratégia pode parecer boa a curto prazo, mas vai revelar-se péssima a longo prazo! No longo prazo, estaremos todos mortos, respondi eu para finalizar a conversa.

E se não correr bem, pode-nos sempre sair um prémio numa raspadinha, não é?

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