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Homenagear Abril em Junho

Vítor Oliveira
Opinião \ sábado, maio 11, 2024
© Direitos reservados
Homenagear (25 de) Abril em (24 de) Junho não é um dever. É uma responsabilidade, um ato de justiça, com uma elevada carga simbólica, carinho e afeto do que deve ser e representar uma Democracia.

Conheci o Capitão de Abril, o vimaranense Rui Guimarães, há duas décadas, quando o 25 de Abril de 1974 estava a completar 30 anos. Para assinalar essa efeméride, o CyberCentro de Guimarães editou para o mercado um documentário histórico sobre a Revolução dos Cravos na Cidade-Berço.

Ouvimos protagonistas de Abril, registaram-se declarações, contamos histórias vimaranenses, eternizamos memórias, quisemos conhecer o património humano que contribuiu para o 25 de Abril em Guimarães, deixamos um legado audiovisual para a cidade com importantes testemunhos de vimaranenses que hoje, por já não estarem entre nós, não seriam possíveis, agora!

Em 2004, no início deste milénio, o 25 de Abril deixava de ser “só” em Lisboa. Nós, Guimarães, também já tínhamos o nosso, com imagens inéditas facultadas pelo visionário José Mendes Ribeiro, um vimaranense que, há 50 anos, decidiu filmar os festejos da Revolução no Toural e o contentamento exteriorizado no percurso entre a Mumadona, o Castelo e o Paço dos Duques.

Já passaram 20 anos desde que entrei no Café Milenário para conversar sobre Abril, com o então Capitão, hoje Coronel, Rui Guimarães e o Dr. António Mota Prego, efusivamente saudados pela população há 50 anos quando o Movimento das Forças Armadas chegou ao Toural, proveniente do Porto, depois das tropas terem passado por Covas, seguindo posteriormente para as Taipas e, a seguir, para Braga.

As imagens, agora com meio século, ainda hoje são recordadas com o mesmo entusiasmo e sentidas com igual fervor vimaranense nas palavras que ambos continuam a expressar sobre o documentário. Agora que o 25 de Abril comemora 50 anos em 2024, talvez fosse oportuno (e o momento ideal) para Guimarães homenagear quem para ele localmente contribuiu.

As reuniões no escritório de Salgado Lobo, na casa de Santos Simões ou na residência de Eduardo Ribeiro. Os movimentos operários protagonizados por Lurdes Silva (“Lurdinhas”, para mim e para muitos!). Os sindicatos vimaranenses e a irreverência de João Dias. A memória de Casimiro Ribeiro, recentemente falecido. As “Brigadas dos Índios”.

Os livros que o nosso saudoso Luís Caldas permitia ler na Rua de Santo António antes da Revolução. A importância da classe docente na instrução da população a seguir a 1974, as sessões de esclarecimento onde se explicava o que tinha acontecido, as campanhas de sensibilização para comunicar os direitos dos (agora) cidadãos. É fundamental não esquecer que o regime tinha caído, mas os fascistas continuavam a (querer) tentar restituir ações repressivas…

Os vimaranenses que, pela primeira vez, saíram à rua sem ter receio de uma carga policial! O “Grupo dos Cinco”, liderado por José Faria Martins Bastos, que entrou na Câmara de Guimarães para implementar o poder democrático e destituir o então Presidente da Autarquia, retirando os quadros de Marcelo Caetano e do Presidente da República, Américo Tomás, colocando-os no chão, voltados contra a parede…

Homenagear (25 de) Abril em (24 de) Junho não é um dever. É uma responsabilidade, um ato de justiça, com uma elevada carga simbólica, carinho e afeto do que deve ser e representar uma Democracia! Até porque, olhando atempadamente para o calendário, está a chegar a Sessão Solene da Batalha de São Mamede de 1128, data maior do nosso concelho e do nosso País!

A quem já partiu, honremos os nossos Homens e Mulheres de Abril com uma homenagem póstuma, um memorial público de agradecimento e de reconhecimento. E valorizemos, sobretudo, quem arriscou a vida e, com coragem, deu o melhor de si para que hoje, 50 anos depois, possamos todos viver em Liberdade. Também em Guimarães…

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