Indústria têxtil: o maior desafio para a economia vimaranense
Na minha última crónica, narrei aqui a história do oleiro Cipriano, que vê o seu ofício tornar-se desnecessário no processo de expansão da industrialização e da substituição do trabalho artesanal pelo industrial. Cipriano foi vítima de um fenómeno ao qual os economistas chamam de “destruição criativa”.
O conceito de destruição criativa foi introduzido pelo economista mais proeminente da escola austríaca – Joseph Schumpeter – para descrever como o processo contínuo em que, através da inovação tecnológica, são consecutivamente descobertos e desenvolvidos novos produtos que tornam obsoletos os anteriores, o que funciona como catalisador do crescimento económico.
É o processo através do qual a Netflix substituiu as lojas da Blockbuster, em que a Uber põe em risco os taxistas tradicionais, ou em que os Nokia desapareceram para dar o seu lugar ao IPhone.
Mas da mesma forma que, à luz da teoria schumpeteriana, o mundo pula e avança, através de um processo disruptivo de criação de novos bens e serviços, que resulta no desaparecimento dos que os precederam, dão-se também mudanças estruturais no mercado de trabalho, com o surgimento de novas necessidades, de novos postos de trabalho, mas também com a eliminação de muitos até aí existentes. E por forma a que o progresso económico seja o menos assimétrico possível, o Estado social não pode esquecer os excluídos deste processo, centrando a sua ação na gestão da transição para as novas formas de trabalho, formando os trabalhadores para as novas exigências do mercado e apoiando-os financeiramente pelo tempo necessário a que essa transição ocorra.
Um setor que passa atualmente por um processo de mutação profunda, que se tornou ainda mais acentuado no período de pandemia e com o eclodir da guerra da Ucrânia, é o têxtil, principalmente o de vestuário. O facto de a pandemia e da guerra terem feito disparar o preço das matérias-primas e da energia só tornou mais visível o esgotamento do seu atual modelo de negócio.
Ainda muito recentemente foi publicado um artigo da revista MIT Sloan Management Review, com o título: “Porque que é que a moda rápida tem de abrandar”, onde é defendido que o atual modelo de negócio da fast fashion (roupa descartável a preço baixo cujo sucesso fez duplicar a indústria da moda entre 2000 e 2014) é insustentável e tem um custo ambiental elevadíssimo.
Só para dar uma ideia, no referido artigo são apontados números muito preocupantes, como sendo o facto de a indústria têxtil ser responsável por 20% da poluição industrial da água e por 10% das emissões de carbono; da produção de um quilo de algodão utilizar, em média, 4500 litros de água e até 10.500 litros de água em países menos eficientes; sem falar da poluição causada pelo processo de incineração da roupa que deixamos de usar.
E o concelho de Guimarães está exposto de forma muito acentuada à indústria têxtil e do vestuário. Consta do sítio da internet da Câmara Municipal de Guimarães: “O sector secundário revela-se, em Guimarães, como a atividade económica dominante, em que 70% das empresas representam a indústria têxtil”. Basta olhar para as listas de empresas de Guimarães às quais foi atribuído o estatuto de PME Líder e PME Excelência, igualmente disponível no sítio do município, para facilmente se poder aferir do peso do setor no concelho.
Obviamente que a indústria têxtil não irá desaparecer, mas parece inevitável que a sua dimensão e o número de empresas irão reduzir-se nos próximos anos, apenas permanecendo quem melhor se souber adaptar, focando-se na produção de artigos diferenciados e inovadores.
Pelo que é absolutamente essencial, para minimizar os efeitos sociais negativos do processo de destruição económica que irá inevitavelmente acontecer, que se faça uma aposta clara e assumida na diversificação da economia do concelho, criando-se condições para o nascimento de novas empresas, em setores inovadores que criem riqueza e emprego bem remunerado.
Caso contrário, o senhor Manuel da tecelagem poderá muito bem ser o nosso oleiro Cipriano.