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Mobilidade: a (des)conversa habitual

José Cunha
Opinião \ sábado, fevereiro 26, 2022
© Direitos reservados
O objetivo estratégico da “Cidade que caminha” vai sendo adiado. Durante a pandemia centenas de cidades limitaram o acesso automóvel em algumas estradas para dar mais espaço público às pessoas, e estão agora a ponderar manter essa ocupação.

Ainda no contexto dos desafios ambientais para Guimarães que abordei no primeiro artigo deste ano, e depois de já ter escrito sobre a participação da sociedade civil, venho partilhar uma reflexão sobre o quanto esse “fazer parte” é fundamental para superar o desafio da mobilidade.

Tenho escrito com alguma frequência sobre questões relacionadas com a mobilidade, e fará 10 anos no próximo mês de Abril, que no período destinado ao público da Assembleia Municipal defendi a necessidade de um Plano Municipal para a Mobilidade. Não foi certamente por essa minha intervenção, e sim pela necessidade do requisito para a candidatura a Capital Verde Europeia, mas eis que no final de 2018 fica disponível o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) de Guimarães para a devida discussão pública. Esse PMUS, dito de 3ª geração pelo foco no planeamento para a qualidade de vida na cidade, não sendo perfeito, é um Plano bem orientado e com objetivos estratégicos a dar primazia ao cidadão.

No entanto, o PMUS não foi sujeito a aprovação do executivo nem da Assembleia, e a discussão pública foi uma vergonha, pois não houve, apesar das insistências e reclamações, resposta às participações nem foi apresentado o relatório de ponderações, num total desrespeito pelos cidadãos. O PMUS foi engavetado. Parece que o plano era não ter Plano, mas sim um catálogo de intenções e sugestões que o Município vai acatando, ou desacatando, ao seu bel-prazer.

E é assim que o PMUS, que no modelo de governação proposto incluía uma comissão de acompanhamento onde estariam representados instituições e atores relevantes, é engavetado com a indiferença da comunidade e dos políticos. E o que devia ser um Plano de Mobilidade de 3ª geração, na prática, continua a ser do século passado, de 1ª geração, onde o planeamento se faz para o automóvel.

O objetivo estratégico da “Cidade que caminha” vai sendo adiado. Durante a pandemia centenas de cidades limitaram o acesso automóvel em algumas estradas para dar mais espaço público às pessoas, e estão agora a ponderar manter essa ocupação. É frustrante, e revelador, verificar que em Guimarães aconteceu precisamente o inverso. O plano de interditar o tráfego automóvel em algumas ruas ao fim de semana foi adiado com o início da Pandemia.

O que não foi adiado foram as dezenas de projetos e obras para prosseguir a política deste Município de “Zero Constrangimentos” para o automóvel, também ela reveladora do pensamento antigo e desadequado à realidade. Mais e melhor estradas só fará com que mais pessoas optem pelo carro como meio de transporte, mas nas palavras de Sadik-Khan, “se a cidade não te dá outra escolha a não ser conduzir, um carro não é liberdade é dependência”.

Entretanto, a “Cidade Ciclável” também vai sendo adiada e o investimento nos transportes públicos vai sendo minado pelas políticas de acesso e estacionamento automóvel na cidade.

Mas apesar deste cenário na mobilidade de Guimarães, o que se discute é se estamos ou não a ver passar comboios, ou a extrema importância de uma ligação direta ao TGV, formulando-se declarações e propostas populistas que apelam ao bairrismo. Não é que estes temas não devam ser discutidos. Mas acenar estas bandeiras, e desta forma, mais não parece que um número de ilusionismo para captar e distrair a atenção dos Vimaranenses.

E necessário acabar com esta (des)conversa habitual e recentrar o debate no que é premente e fundamental: o PMUS e o Sistema de Transporte Público em Via Dedicada.

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