Mobilidade Urbana em Guimarães: que visão de futuro?
A fraca mobilidade urbana é uma realidade com que os vimaranenses se deparam no seu quotidiano e uma prioridade de intervenção identificada por toda a classe política local. Apesar disso, e reconhecendo a mobilidade como um desafio global que não tem resolução fácil nem de cartilha, não existe – nem se exige – uma visão e estratégia que mobilize a comunidade, e dê rumo e coerência às políticas e projetos municipais.
Na falta desta visão estratégica, o que existe são políticas e ações desgarradas, que por falta de integração ou por desfasamento temporal ficam limitadas no seu potencial de intervenção e mudança de paradigma da mobilidade urbana local. Construir ciclovias e pintar bicicletas nas estradas para incentivar o modo ciclável terá um efeito prático residual se não for acompanhado de medidas de acalmia de tráfego que tragam segurança aos seus utilizadores. Assim como uma nova concessão de transportes públicos urbanos com mais rotas e distância percorrida não captará quota modal ao automóvel privado se persistirem em lhe dar facilidades e tolerância ao invés de instituir práticas e políticas restritivas que incentivem um uso mais regrado desse modo de transporte.
A falta de um rumo coerente também permite que ao mesmo tempo que se proclama uma inversão da pirâmide da mobilidade, em que o peão estará no topo das prioridades e o automóvel privado no lado oposto, se anunciem projetos de novas estradas e rotundas para facilitar o seu uso. Permite um discurso esquizofrénico e hipócrita que declara ambicionar menos carros num futuro próximo mas que continua a projetar infraestruturas para acomodar um expectável número crescente de veículos, admitindo, desde logo, que vão falhar a ambição ou que então esta não é verdadeira. Permite um discurso de ambição vanguardista mas com uma prática de lógica obsoleta que entende sempre os congestionamentos como um défice de infraestruturas e nunca como um excesso de automóveis.
Declaram-se intenções politicamente corretas para serem ecoadas pela comunicação social e ouvidas por cá e na Europa, mas anunciam-se projetos de aceitação popular para “calar” oposições e garantir votos, numa perspectiva de curto prazo que ignora e compromete a competitividade futura que se assegura com sustentabilidade e resiliência.
Eu diria que em matéria de Mobilidade Urbana falta humildade, sensibilidade e coragem aos dirigentes políticos locais. A humildade de reconhecer as nossas debilidades e que estamos longe de ser um modelo exemplo para o mundo. A sensibilidade para se interessarem e capacitarem sobre os impactes da mobilidade. E a coragem para enfrentarem as pressões e tentações dos interesses imediatos e agir como se os votantes nas próximas eleições fossem as nossas crianças, que por uma qualquer magia vieram de um futuro próximo para avaliar o legado que lhes estamos a impor.
Urge uma ampla e urgente reflexão sobre uma visão de futuro para a mobilidade urbana em Guimarães, haja vontade.