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Nós não fazemos nada à toa!

José Cunha
Opinião \ sábado, outubro 08, 2022
© Direitos reservados
Nesta Assembleia Municipal, o tema central foi mobilidade. Em conclusão, diria que em Guimarães se faz muita coisa sem a devida justificação e ponderação e se diz muita, mas mesmo muita, coisa à toa.

O meu entendimento pessoal de dever cívico faz com que me esforce em ser participativo de modo informado, e por isso, tenho o hábito de assistir às Assembleias Municipais de Guimarães. Foi o que aconteceu na semana passada (ainda que online) nas sessões descentralizadas que ocorreram na Vila de Pevidém.

Nessa Assembleia Municipal (AM) o tema central foi a mobilidade, tendo sido abordados o serviço de transportes públicos da Guimabus, as trotinetas, a pedonalização do centro histórico, e, com mais incidência, o local e a forma de ligação da futura estação da linha Porto-Vigo da ferrovia em alta velocidade.

Do debate deste tema quero destacar e comentar algumas observações feitas pelo Presidente da Câmara que demonstram alguma capacitação e evolução discursiva sobre mobilidade em transportes públicos, mas que ainda assim carecem de coerência.

Foi dito que é necessário pragmatismo porque está estudado que a densidade populacional e a potencial procura do serviço tem um papel preponderante na escolha do modo de transporte público eficaz e sustentável. Comboio, metro, tramway ou metrobus têm diferentes objetivos e quantidades mínimas de utentes para a sua viabilidade. Se não tivermos pragmatismo podem dizer que somos “um bando de malucos”.

Foi dito que “nós não fazemos nada à toa!” E que Guimarães tem sido acompanhada por grandes especialistas. Foi a Paula Teles no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável, tem sido o Álvaro Costa no Estudo de Transportes Públicos em Via Própria e será agora o José Mendes numa proposta de traçado para ligar à estação de alta velocidade (que curiosamente se insiste em dizer que ainda não está definido o local).

Foi dito que Guimarães (à escala europeia) tem um aeroporto, pois o Sá Carneiro está somente a 30 minutos de distância.

Foi dito que a perda de população de Guimarães não foi por falta de atratividade ou de economia, mas por falta de localização para construção de habitação, e que isso está a ser tratado.

E para comentar o que foi dito, começo por perguntar se (à escala europeia) Guimarães não irá ter estação de alta velocidade? A ser localizada em Braga, não estará a 15 minutos de Guimarães? Reivindicar uma ligação ferroviária dedicada à estação de alta velocidade, como já foi defendido creio que de forma unânime pelos responsáveis políticos vimaranenses, é um absurdo, e se não for entendido como um mero discurso populista, é legitimo que pensem que somos um “bando de malucos”.

Que coerência existe em defender uma ligação à alta velocidade de modo simples e rápido, quando se completa a frase com “ e se possível recolhendo as pessoas ao longo das nossas freguesias e vilas”?

Dizem que “nós não fazemos nada à toa”, mas querem fragmentar e ocupar mais território com uma justificação sem qualquer evidência estatística ou empírica, e apesar de estar a ser elaborado o estudo “A Situação Demográfica em Guimarães - Causas e futuro” onde deve constar o diagnóstico da situação atual e identificar novas medidas e políticas que permitam inverter a situação demográfica em Guimarães. Creio que este estudo só vai conhecer a luz do dia quando a alteração do PDM for um facto consumado.

Em conclusão, eu diria que em Guimarães se faz muita coisa sem a devida justificação e ponderação e se diz muita, mas mesmo muita, coisa à toa.

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