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O Desporto e a Atividade Física no Jogo de hoje (continuação)

Francisco Oliveira
Opinião \ segunda-feira, maio 29, 2023
© Direitos reservados
O nosso VSC com sofrimento e muito querer conseguiu uma época que não nos envergonha e augura tempos melhores.

O jogo, desporto ou atividade física, resulta de um empenhamento total do indivíduo, mas é igualmente, escreveu Manuel Sérgio (in O Desporto como Prática Filosófica. Lisboa: Diabril, 1977), o “exercício físico metódico que deverá reunir uma ética, uma estética e uma arte”. Ora, se a filosofia consiste na busca do entendimento pensado e pensante da realidade como um todo, e fá-lo logicamente, de maneira genérica e sistemática, então “a filosofia do desporto forceja por compreender o desporto na sua integralidade, interpretando-o por meio de conceitos gerais, suscitáveis de orientarem a escolha de objetivos e directrizes de acordo com os fins últimos” da humanidade, da sociedade e da história. Seja como lazer ou prática, como espetáculo ou técnica, como profissão ou investimento, deve promover sempre a ética, a arte e a ciência, na procura de uma estética total e integral da mulher e do homem que o pratica. E, uma das regras da doutrina do jogo como desporto e atividade física, é igualizar as condições de participação, eliminando todos os factores aleatórios susceptíveis de influenciar o desfecho da competição/prática. Assim, como afirmou Michel Bouet (in La Signification du Sport), “o desporto então habita o corpo; o corpo já não é apenas o habitante do desporto”. (continua…)

Mas agora, além de continuar esta filosofia do jogo, impõe-se uma palavra sobre a época 2022-2023 do Vitória Sport Clube. Esta época 22-23 do nosso Vitória foi marcada por muito sofrimento e muito querer. Tempo de “vacas magras”, cortes e mais cortes, pois sem ovos não se fazem omeletas, e muito mais neste Portugal do jogo da bola viciado pelos três (ou melhor, os dois) grandes. O Vitória precisa de uma gestão responsável e ambiciosa. O adepto comum, resultadista por excelência, só ambiciona vitórias. Mesmo que seja com o dinheiro que não tem, ou arranja sempre uma lógica de mercados que não se compraz com a realidade do mercado real do futebol português e internacional. Todos temos a nítida consciência de que esta equipa de futebol é composta de gente muito jovem, muitos deles da nossa formação (com o custo inevitável da equipa B e da Revelação), contudo ainda em construção como jogadores e atletas. Em maturação como homens e como profissionais. Porque as finanças do clube assim nos obrigaram, e de forma responsável (logicamente com muitos riscos), a direção presidida por Miguel Cardoso viu-se obrigada a dispensar o onze mais utilizado na época cessante. Só três (Varela, Lameiras e Tiago Silva) jogadores experientes, e mais tarde André André, se mantiveram. Foi preciso apostar na formação, como à exaustão os adeptos pedem às direções época-após-época, e esta corajosa e competente direção o fez. Ou, a baixo custo, e outras operações, contratar jogadores. Porém, a direção apelidou este de caminho das pedras. Esta direção cometeu erros? Com certeza! Mas no somatório as suas decisões e ações estão a caminhar sobre as pedras e depois a reusá-las na (re)construção do Castelo onde o Rei voltará a reinar e reunir forças para voltar ao assalto do lugar que merecemos no futebol português e europeu. Será que o quinto lugar salva este ano?! Ou a Conference League é já um prémio bom?! Uma ou outra já manifestam como esta direção, apesar de tudo, fez e está a fazer um trabalho sério. Sem dúvida uma aposta certeira. Continuem! Eu confio em quem se comporta como a formiga e não nas cigarras que preenchem as bancadas (físicas, mediáticas e da Web) do futebol.

Mas a grande aposta desta direção foi, sem dúvida, a aposta em Moreno, vitoriano como nós e conhecedor como ninguém da mística vitoriana. Moreno, conhecedor da nossa mística, vitoriano como todos nós, pegou nestes miúdos e fez uma equipa de homens unidos à volta de alguém que fala a língua do balneário e sente o Vitória como seu. No jogo contra o Gil Vicente vimos como o espírito vitoriano invadiu todos os atletas e como o estádio se uniu em uníssono festejando época tão difícil, mas conseguida com a classificação, mais que louvável, para a Conference League. Moreno fez um trabalho excecional, ele que ainda não tem o estatuto que um canudo oficializa, mas que já o é: treinador do VSC. Sim, sem Moreno esta época seria uma época em que a deceção se abateria sobre nós. Mais uma vez! Foi ele, expondo-se ao insulto e à multa, ou mesmo às reprimendas, que alavancou estes miúdos e nos leva à Europa. Quem vê e acompanha futebol comigo sabe que a minha leitura desta equipa era clara e curta: fraca, mas com potencial para crescer. Queria ficar, pelo menos, no primeiro terço da tabela. Ora, ficar classificado para a Conference League, com a hipótese de ainda conquistar o 5º lugar, depois daquela fase tão difícil, onde o terceiro guarda-redes nos enterrava jogo-após-jogo, sou alguém que vê a sua confiança vitoriana muito reforçada. E este reforço, nesta terra que amamos, mas que às vezes pensa pequeno e onde somos “má mãe, mas boa madrasta”, congratulo-me com o vimaranense e vitoriano Moreno e classifico-o como a melhor aquisição deste Vitória 22-23.

Os processos do futebol, e hoje mais do que nunca, não se reduzem a chutar uma bola e metê-la entre as redes. Sim, é isso que nós – o comum adepto – queremos ver e festejar! Todavia, o jogo da bola é hoje mais complexo, e, não raras vezes, mais complicado. A lógica dos mercados e do mundo financeiro perceberam o nicho do jogo da bola, como sempre foi o Jogo, um lugar e momento único de money make to money. Com a serenidade que inspira o nosso presidente, Miguel Cardoso, e a raça vitoriana do nosso treinador, Moreno, o nosso VSC com sofrimento e muito querer conseguiu uma época que não nos envergonha e augura tempos melhores.

Vitória até morrer! E, como dizia o meu pai, e depois da morte! Sempre!

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