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O desporto e a economia (continuação)

Francisco Oliveira
Opinião \ sábado, maio 25, 2024
© Direitos reservados
O cancro dos três grandes, que amorfa e abafa o futebol português, é paradigmático na realidade em que os clubes portugueses – em consequência desta mentalidade saloia e da consequente gestão egoísta.

O futebol português como negócio, apesar de todos os defeitos, existe, só que esses defeitos agudizam-se na coutada dos ditos três grandes, a que a comunicação social e os predadores do jogo do futebol, com a sua máxima de ganhar hoje e depois logo se vê, promovem em nome de interesses outros que não o jogo e o desporto. Contudo, com consequências muito nefastas, enfraquecem e geram assimetrias muito gravosas para o dito negócio e a sua competitividade (interna e externa). O espelho mais nítido deste depauperar do jogo em Portugal vê-se de sobremaneira na desigual competição entre os 3 e os restantes, quer monetária, quer desportivamente, e (escandalizem-se!!!) quer quanto à aplicação das regras de jogo pela Federação Portuguesa de Futebol e, mais grave ainda, da Liga Portuguesa de Futebol e das equipas de arbitragem (no campo e no VAR). Uma vergonha que pagamos na UEFA, e nos safamos na Seleção graças aos jogadores de Portugal a jogarem fora.

O cancro dos três grandes, que amorfa e abafa o futebol português, é paradigmático na realidade em que os clubes portugueses – em consequência desta mentalidade saloia e da consequente gestão egoísta – vivem num permanente déficit e num depauperar de plantéis. Se temos dos melhores jogadores (no início de 2023 a consultora DBRS Morningstar atualizou a lista dos 10 mais bem pagos do desporto internacional, sendo os 3 primeiros do futebol, e o primeiro de todos Cristiano Ronaldo, com o valor astronómico de €112,1 milhões) e treinadores do mundo, porque não é capaz o nosso futebol (e o desporto em geral) de dar um salto qualitativo? Serão os governos desta nação de caciques e centralizadora comparsas desta lógica achincalhadora do desporto, e em particular do futebol? Serão as federações e associações desportivas que, em vez de promoverem o jogo nas suas mais variadas facetas, promovem interesses mal explicados e pouco transparentes? Serão os gestores e diretores dos nossos clubes reduzidos a mandachuvas empinados e SADistas (desculpem-me o neologismo, que nada tem a ver com Sade) de mais-valias? Serão os adeptos, eternos resultadistas, e que procuram no jogo o que não ganham na vida quotidiana (talvez isto explique o fenómeno dos muitos adeptos e sócios dos ditos “grandes”), os responsáveis por esta alienação permanente entre nós? Ou, o quarto poder de vigilância, os media, que são capazes de todos os dias falarem de futebol …. Oh! enganei-me, dos 3 grandes e num comentário arrastado e que se esgota em polémicas dos ditos grandes (até à náusea se fala de futebol, e – espanto!!! – com 3 jornais diários nacionais)? Que mescla esta que nos vai prejudicando a todos, os grandes, os médios e os pequenos. Quem lucra com isto?!

O negócio futebol é um driblar de prejuízos e soma de lucros, com transferências milionárias de jogadores para campeonatos mais capitalizados, e o resultado da última década (2014-2023) é um balanço negativo, que nos 3 grandes é de €94 milhões. E isto, mesmo que lhe corresponda um aumento significativo de receitas. Como se explica isto?! Por uma evolução errática dos resultados líquidos e em junho de 2014 tinham capitais próprios negativos. Mas reforço, como se explica isto? São tantas a explicações, não raramente incongruentes, que mais confusos nos deixam. Que meandros estranhos! Bastará propor um diversificar e/ou novas formas de receita? Quem paga? O adepto? Bastará a centralização dos direitos televisivos, numa liga com uma disparidade muito grande na forma como as receitas são distribuídas, privilegiando os ditos 3 grandes? Não irão estes colocar entraves como o fez o Porto no início da época 23/24, concordando, mas exigindo a receção de um valor não menor do que aquele que recebe até ao momento. O mesmo Porto que na época 22/23 teve um prejuízo de €47,6 milhões, e atirou os capitais próprios para um recorde negativo de €175 milhões. Isto é viável? E se isto é necessário, será suficiente? Ou então o projeto de internacionalização do futebol português, que consta (ou constava?!) no projeto do Pedro Proença, presidente da Liga Portugal. E quem está de facto interessado nosso futebol, os PALOP ou as nações ricas do Ocidente e da Arábia? Fala-se de ecossistema empresarial, de organização altamente profissional, etc, num futebol que gravita à volta de 3 clubes e sem competição. Quem quererá ver um jogo dos clubes pequenos e médios? Onde todos os anos e aberturas de mercado, perdemos as nossas mais-valias e só nos restam as sobras e as migalhas. Uma I Liga de Futebol que é a que menos lucra com saídas de jogadores, de modo especial na abertura de janeiro, na comparação com as big five, e onde o risco é facilmente detetado no modus operandi dos nossos clubes e daas instituições que dizem servir o desporto em Portugal. Só encontro incógnitas, e muita desconfiança e má-língua (e isto não é rivalidade), e não gente amadora (no seu sentido mais original) do jogo e profissionalmente competente (ou são outras as competências).

Razão tem o Papa Francisco em Mensagem enviada, a 16 de maio de 2024, ao Congresso Internacional sobre Desporto e Espiritualidade -Colocar a vida em jogo – na qual reconhece “um papel cada vez mais importante na sociedade, moldando a vida quotidiana”. Num apelo a ambientes desportivos saudáveis e formativos, reafirma a necessidade da “educação nos valores genuínos da competição, purificados do egoísmo e dos interesses meramente materiais”, alertando para “os riscos da desumanização e da corrupção”. Quo vadis o jogo, a atividade física e o desporto?!

Continua…

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