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O espaço público

José Cunha
Opinião \ segunda-feira, novembro 06, 2023
© Direitos reservados
Não dá para resistir a fazer o trocadilho de que “a intervenção no espaço público precisa de mais intervenção no espaço público”.

Chegou o Outono. E com ele chegou a chuva, a queda das folhas, os magustos e também as Ecorâmicas. Mas ao contrário dos magustos, em que há muitos e podem ser quando e onde quiserem, Ecorâmicas só há uma e tem dia e local marcados: 25 e 26 de Novembro no auditório da Fraterna.

Pois é, está aí à porta a 9ª edição da mostra de cinema documental sobre ambiente e sociedade organizada pela AVE - Associação Vimaranense para a Ecologia, que este ano tem como tema o ESPAÇO PÚBLICO, e por isso, a reflexão deste mês será em jeito de anúncio e aperitivo do evento.

Debater sobre o espaço público é tão complexo quanto importante. O espaço público assume diferentes formas, e envolve e interfere com uma diversidade enorme de elementos físicos e de interesses. O espaço público pode ser uma rua, uma praça ou um parque, e tem de acomodar a infraestrutura e o desenho para o metabolismo físico e social da cidade. A forma e a gestão desse espaço são influenciadas pelo engenheiro civil que quer funcionalidade para as redes de infraestruturas, pelo arquiteto que quer estética e ordenamento, pelos cidadãos que reclamam mais espaço para circular e estacionar os automóveis, ou por outros cidadãos que pedem mais segurança, espaço e conforto para andar a pé. Estas necessidades, interesses e convicções dos diferentes grupos da comunidade, que são muitas das vezes conflituantes, acrescem à complexidade técnica uma dimensão política que faz da gestão do espaço público uma tarefa muito difícil. Mas esta complexidade de interacções e abrangência que demonstra esta dificuldade também comprova a importância de uma boa gestão do espaço público para a qualidade de vida da comunidade.

Sou da opinião de que essa gestão precisa de ser melhorada. Transformar um espaço público na busca de qualidade de vida não deve passar só por um check-list de características, pela estética ou pela comparação entre o antes e o depois. Não basta o resultado final. A forma como se envolve e compromete os cidadãos é fundamental para fortalecer laços entre as pessoas e destas com os lugares que habitam ou frequentam. Não deixa de ser irónico que sendo o espaço público também associado a espaço de debate, não se debatam adequadamente as alterações que nele acontecem. Não dá para resistir a fazer o trocadilho de que “a intervenção no espaço público precisa de mais intervenção no espaço público”.

Nas Ecorâmicas pretende-se questionar “a quem pertence” o espaço público, não só na perspectiva de que temos o direito de ser envolvidos na sua reconfiguração e gestão, mas também para alertar para a responsabilidade que temos em cuidar dele. Num mundo com uma sociedade cada vez mais individualista, o espaço público ainda se constitui como um reduto social feito de partilha, um condomínio. E no entanto, são poucos os condóminos que marcam presença nas também escassas reuniões de condomínio.

Como já referido, esta reflexão sobre o espaço público é um convite para as Ecorâmicas, evento que tem entrada livre e onde se dá voz a todos. Não deixem de comparecer e convidar quem tenha interesse no tema.

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