O papel do Programador e a sua relação com a Política Cultural
Para o programador, só o reconhecimento e o respeito pelas fronteiras das suas competências e atribuições permite construir as bases de uma programação de serviço público.
Um qualquer projeto cultural exige que a sua base esteja cimentada numa visão política e estratégica de quem tem o poder decisório. Por um lado, só um poder sustentadamente estratégico e convictamente esclarecido consegue criar condições para que se cumpra o serviço público, sem interferências casuísticas a propósito deste ou daquele interesse, com uma cumplicidade partilhada no que concerne a duas questões essenciais: o conhecimento do ponto de partida e a partilha do objetivo de chegada. Por outro lado, só o reconhecimento e o respeito pelas fronteiras das suas competências, atribuições e limites permite ao programador construir as bases de uma programação de serviço público.
Mas o que é isso de programação de serviço público?
A primeira abordagem, sem conseguir abandonar por completo a abordagem teórica, situa-se ao nível da utopia no que concerne ao âmbito dos fruidores das propostas que uma programação artística disponibiliza. Citando de cor a ex diretora do Teatro Municipal de Bragança, Helena Genésio, quando questionada sobre o pretenso elitismo da sua programação, diria que se elitismo significa qualidade, desejo elitismo para todos.
Perseguindo o desiderato desta contradição, procura-se a sustentação cultural através do objetivo traçado para prossecução de uma missão.
Por definição, o programador deve assegurar a sustentação cultural pela presença da convicção do trabalho desenvolvido no campo da programação e da criação artística. Assegurar sustentabilidade significa disponibilizar propostas artísticas de forma regular e com abrangência de área e género. Sustentabilidade significa que o programador está munido de convicções e de conhecimentos para executar a tarefa em apreço, significa que o programador é um mediador entre o objeto artístico e o público, significa que o programador está ao serviço da mediação e não se serve dela para outros fins que não o de tentar utilizar os recursos disponíveis para aproximar e colocar em diálogo o sujeito (público) e o objeto (obra). A adequação da programação, em função do conhecimento e interpretação do território, potencia a sustentação do projeto, consolidando relações e favorecendo a apropriação. Sustentação programática é dar primazia ao objeto artístico, em detrimento de lógicas meramente economicistas, numéricas, gosto pessoal ou lobby. Sustentação é propiciar uma proximidade relacional entre o público e a arte.
Sustentação é formação; é criação, é diálogo, é divergência; é convergência; é ter opinião; é fazer opinião; é ouvir; é não hesitar; é avançar humildemente; é recuar orgulhosamente; é gerir tensões; é ousar.
Sustentação é tudo isto e muito mais, desde que utilizado como veículo e como forma de veicular a aproximação do público às artes e à cultura no seu conceito mais humanista – ao serviço do homem.
Sustentação é, ainda, dar condições para que todos possam ter acesso a um exercício de cidadania pleno.
Sustentação é estar ao serviço do projeto e, consequentemente, estar ao serviço da Política Cultural.
Não se pode estar, não estando!
Não estando, não se pode estar!