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O sound bite na retórica política - Comunicação, que comunicação?

José Bastos
Opinião \ terça-feira, fevereiro 01, 2022
© Direitos reservados
“As nossas crenças mais justificadas não têm qualquer outra garantia sobre a qual assentar, senão um convite permanente ao mundo inteiro para provar que carecem de fundamento.” John Stuart Mill

A última campanha eleitoral pode ser classificada como uma metáfora ao pensamento de Stuart Mill. Na tradução dessa metáfora podemos e devemos questionar o valor do sound bite na retórica política.

E parece que vale pouco, parece que vale cada vez menos. Se parece certo que o sound bite vale mais like’s, também parece óbvio que quando verdadeiramente interessa cada um de nós utiliza os filtros que possui e assimila muito para além do sound bite.

Porque esta realidade não se circunscreve à última campanha eleitoral nem à retórica política, importa refletir sobre os sistemas tradicionais de comunicação e sobre a sua importância, relevância e indispensabilidade.

Os sistemas tradicionais de comunicação - a rádio, a televisão, os jornais e as revistas – sofreram nos últimos anos um forte revés que poderia levar a conclusões precipitadas de que estes meios tradicionais estariam votados à falência numa dupla perspectiva. Por um lado a falência que resultaria do suposto abandono a que estes seriam votados pelos seus habituais “consumidores” o que, por outro lado, consequentemente redundaria numa falência económico financeira.

A ignição desta falência seria a internet que nos permite saber qualquer coisa a qualquer hora e em qualquer lugar.

Perante este facto, os media tradicionais já não lutam contra a realidade, juntam-se a ela, colocando em prática a velha máxima popular: “Se não consegues vencê-los, junta-te a eles”, e alinham pelo mesmo diapasão inserindo-se no espaço cibernético, alimentando-o e alimentando-se dele.

Com esta nova realidade, no atual paradigma da comunicação, há um conceito muito relevante e mesmo caracterizador, até há pouco tempo, que perdeu peso, perdeu eficácia. Falo do conceito de periodicidade. Hoje a comunicação não tem periodicidade, a comunicação é “on-line” e “on-time” com todas as consequências que advêm deste novo mundo comunicacional.

Mas, de facto e apesar desta nova realidade, não é expectável o fim dos tradicionais órgãos de comunicação social.

Ainda que a Internet, e tudo o que proporciona ou potencia, seja uma enorme mais-valia para quem se pretende informar, é importante perceber, em primeiro lugar, que uma parte da população não dispõe de acesso regular e facilitado. Para além disso, da mesma forma que a rádio encontrou o seu espaço aquando da chegada da televisão, os media tradicionais precisam de apreender o mercado e garantir um lugar de diferenciação na competição futura. A Internet terá, talvez, cada vez mais uma característica que intrinsecamente a marcará – o imediatismo, o “on-time” – e onde estarão as notícias que primam pela rapidez e que, por isso, são produzidas à velocidade da síntese e da superficialidade.

Por analogia, e seguindo o estilo metafórico, poder-se-á falar dos diferentes suportes comunicacionais como da composição da pele .

Poderíamos, assim, falar da epiderme como suporte de comunicação mais superficial, mais imediato, mais acessível, mais visível, mais disponível, representado pelos meios de comunicação baseados na tecnologia e seguindo o conceito, já referido, de “on-time”; teríamos a derme como suporte de comunicação mais convencional ou mais tradicional, representada pelos meios de comunicação editados ou produzidos com determinada periodicidade que funcionam já numa lógica de maior aprofundamento das questões, não se regendo pela necessidade do imediatismo e deixando espaço para a investigação e para a produção de conteúdos sem a inexorável pressão do tempo e destinada a um receptor que procura contextualização, enquadramento e rigor.

Por fim teríamos o hipoderme subcutâneo como suporte de uma comunicação plena de conteúdo, plena de contexto, plena de rigor, plena de cientificidade em que é algo que posto ao serviço da humanidade pode ajudar a dar sentido à vida de cada um. Esta informação transformada em comunicação funciona como complemento aos conteúdos obtidos nos media tradicionais, que funcionam, por sua vez, como complemento aos conteúdos disponibilizados pelo imediatismo cibernético.

Em conclusão, a comunicação, à semelhança da cultura, deve ser aquela que ajuda cada um de nós a tornar-se aquilo que é, e que não procura fazer que cada um continue a ser aquilo que já era.

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