O que podia ser feito…
Não gostei de ver Guimarães com as ruas desertas. Não gostei de ver as fotos, os vídeos e os diretos. Não gostei de ver os comerciantes indignados. Não gostei de ler apreciações negativas sobre quem nos governa e de quem dá o melhor de si. Não gostei de estar numa fila interminável de automóveis. Não gostei de entrar nas caixas de comentários das redes sociais. Não gostei, não gostei, não gostei. Esta semana, não gostei.
Gostaria de ter visto uma melhor articulação entre Município e sociedade civil. Gostaria de ter ido à caixa de correio (de casa) e retirar de lá uma informação da Autarquia a comunicar a intenção de medir o impacto do centro da cidade sem trânsito. Gostaria que tivesse sido criado um (apelativo) programa de animação que convidasse os vimaranenses a irem para o espaço público. Sem chuva e, sobretudo, sem ser na época dela.
Gostaria/gostaríamos que outro sentimento nos tivesse atropelado, esta semana. Gostando-se ou não, nada pode mudar o que foi feito, até agora. Mas pode-se procurar alterar, no futuro, para tentar corrigir o que feito está! E há ainda muita coisa a fazer, certamente.
Mesmo que seja para medir impactos, fechar as ruas extemporaneamente, durante dois ou três dias, esperando que as pessoas adiram à moda das cidades pedonais, é como ficar dois ou três dias sem comer e achar que vamos emagrecer nesses dias. Pura ilusão. O processo tem de ser gradual e respeitar um plano bem delineado, que vá de encontro ao que se pretende.
Antes de mais, as pessoas têm de saber o que vai acontecer. Têm de ser (e ficar) convencidas. Têm de ser devida e atempadamente informadas para que adiram e façam outros aderir! A receita não tem nada de complexo. Por vezes, é que se complica. Sem necessidade.
O mesmo se passa quando se pretende transformar a vida quotidiana no centro de uma cidade e reduzir… ao tráfego! Sabemos que o circuito turístico, em Guimarães, começa no Castelo e no Paço dos Duques, atravessa a Rua Santa Maria, cruza a Oliveira/Praça S. Tiago e termina no Campo da Feira, com os autocarros de porta aberta. Raramente, muito raramente, vemos turistas na Rua de Santo António, Toural ou Alameda de S. Dâmaso – artérias do espaço público que foram interditadas esta semana.
Antes de se partir para uma qualquer decisão transformadora, eventualmente polémica, talvez não fosse descabido agendar uma consulta de opinião. Até poderia haver lugar a ações de campanha a “favor” e “contra” ao fecho do trânsito no Toural, o coração e a sala de visitas da nossa cidade, o nosso “Rossio”, os nossos “Aliados” – que, por terem uma centralidade sem alternativas, continuam com circulação rodoviária.
O Referendo Municipal é um instrumento de democracia direta pela qual as pessoas são chamadas a pronunciar-se, por sufrágio direto e secreto, sobre assuntos do seu Município. E só votam as pessoas que estejam recenseadas no seu concelho! Previsto pelo artigo 240º da Constituição Portuguesa, o referendo local, até agora, foi utilizado apenas 8 vezes em Portugal.
Domingos Bragança sentenciava um assunto polémico e concedia aos vimaranenses a oportunidade de se pronunciarem sobre o que, afinal, queriam para o centro da sua cidade. Dava um exemplo aos autarcas do País do que era governar para (e com) as pessoas, envolvendo efetivamente os cidadãos, permitindo-lhes influenciar, decidir, participar ativamente nas decisões políticas, através de um mecanismo governamental de democracia participativa.
Ao envolver, estaria a comprometer os cidadãos.
E os vimaranenses são de compromisso.