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PME Champions

Eduardo Fontão
Opinião \ terça-feira, junho 20, 2023
© Direitos reservados
Será que a teoria de que são as grandes empresas que pagam os vencimentos mais elevados e dessa forma puxam pelo aumento global dos salários poderá explicar o que está a acontecer em Guimarães?

Foi publicada pelo IAPMEI, no passado mês de maio, a listagem das empresas distinguidas com o estatuto de PME líder para o ano de 2022. A distinção é atribuída às PME (pequenas e médias empresas) que atinjam um desempenho superior nos seus níveis de solidez e de desempenho económico-financeiro, aferidos através do cumprimento de um conjunto de indicadores previamente definidos.

Das 10239 empresas às quais foi atribuído este “selo de reputação”, 239 estavam sediadas no concelho de Guimarães. Só 6 municípios – Lisboa, Porto, Braga, Sintra, Leiria e Vila Nova de Gaia –, e todos eles, com exceção de Leiria, bastante mais populosos do que Guimarães, tiveram mais empresas distinguidas.

Só por este facto, os empresários do nosso concelho já estariam de parabéns. Mas merecem-nos mais ainda se mergulharmos um pouco a mais a fundo na informação detalhada disponibilizada. As 239 “PME líder” do concelho de Guimarães atingiram um volume de negócios acumulado de 1.481.081.808 €, inferior apenas ao conjunto das “PME Líder” do concelho de Lisboa. E se por vezes, faturar mais não é sinónimo de gerar melhores resultados operacionais, neste caso tal não ocorreu, pelo contrário. O EBITDA (resultado operacional) acumulado pelas nossas 239 empresas, também só é ultrapassado pelas 609 “PME líder” do concelho de Lisboa, e é manifestamente superior ao de municípios como Braga ou Porto, em que o número de empresas distinguidas é manifestamente superior (277 e 311 respetivamente).

Mais importante ainda, foi o conjunto de “PME líder” do concelho de Guimarães que mais exportou, num universo de 308 concelhos. Atingindo um volume de exportações de 505.937.881€. Lisboa, quase com o triplo de empresas distinguidas, exportou pouco mais de metade (271.334.271€).

Já no que diz respeito à distribuição destas empresas por setor de atividade, a realidade do concelho de Guimarães é bastante díspar da do resto do país. Se no sector do comércio, os dados concelhios estão alinhados com os nacionais e representam cerca de um terço do total, já no setor da indústria (em que o têxtil e do vestuário assumem particular relevância) no município de Guimarães verifica-se uma percentagem bastante superior ao do resto do país (52,84% em Guimarães e apenas 25,31% na globalidade).

Curiosamente (ou estranhamente), num concelho cuja sede foi a primeira capital do país e com o centro histórico distinguido pela UNESCO como património mundial desde 2001, o sector do turismo apenas tem uma representatividade na listagem de 3,06%, quando a nível nacional essa representação é superior a 11%.

Igualmente curioso é o facto do desempenho extraordinário de muitas empresas que operam a partir do concelho de Guimarães não ser acompanhado por igual desempenho ao nível dos rendimentos médios auferidos pelos agregados familiares residentes no concelho. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados para o ano de 2019, o valor mediano do rendimento bruto declarado no IRS por sujeito passivo em Guimarães é apenas o 141º num total de 308 concelhos, atingindo um valor de 8.832€, situando-se inclusive abaixo da média nacional (9.539€).

Será que a teoria, cada vez defendida por mais economistas, entre eles o atual ministro da Economia, de que são as grandes empresas que pagam os vencimentos mais elevados e dessa forma puxam pelo aumento global dos salários, poderá explicar o que está a acontecer em Guimarães?

E que a razão para que, no nosso concelho, não se esteja a conseguir que o bom desempenho do tecido empresarial se traduza num aumento robusto e sustentado dos rendimentos auferidos pelas famílias é justificado pela falta de empresas de grande dimensão a operar em Guimarães?

Julgo que sim, e parece-me que muito pouco tem sido feito para mudar este paradigma.

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