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Quem avisa…

Vítor Oliveira
Opinião \ sábado, maio 13, 2023
© Direitos reservados
Sol na eira e chuva no nabal nem sempre é possível. Mas já é tempo de deixar de “meter água”. E de dar tiros nos pés. Para o bem de todos.

Muitas vezes, achamos que o que acontece lá fora vai demorar muito tempo a chegar até nós. Foi assim o pensamento generalizado quando, há três anos, achávamos que o vírus da COVID-19 tardaria a instalar-se por cá. Ou que provavelmente nem chegaria! Habitualmente, achamos que só acontece aos outros. Até vivermos nós essa realidade...

Esta semana, devido às condições climáticas, França declarou a proibição de lavar carros, regar jardins e encher as piscinas, em determinadas regiões do sul do país. As luzes de aviso têm estado a piscar desde 2010 (!), quando foram tomadas medidas similares, depois de invernos secos terem agravado os lençóis freáticos, já esgotados.

Na Europa, o programa Copérnico divulgou esta semana que o mês de abril de 2023 foi o quarto mais quente do… mundo! Em Portugal, a ministra da Agricultura disse que 40% do território nacional já está em situação de seca severa e extrema. E que as medidas, para já, são dirigidas ao setor da agricultura.

E o verão ainda nem começou!

Teoricamente, aproxima-se a estação mais seca do ano e essa circunstância, por si só, já causa preocupação. Freguesias, municípios, regiões, países embaraçam-se para vencer a falta de água e combater o desperdício. Parece um “déjà vu”, mas a verdade é que os episódios repetem-se e têm sido cíclicos. Um pouco por todo o lado, um por todo o mundo.

Na Austrália, foram realizadas obras nas habitações para que as águas residuais que saem das casas sigam para reservatórios próprios. Depois de tratada, a “água de reutilização” regressa às moradias, entretanto adaptadas para receber o líquido numa torneira especial, a fim de ser utilizado na limpeza da casa, lavagem de roupas e outras atividades em que se consiga evitar o emprego de água potável.

Na China, além do incentivo à compra de produtos que usam menos água, o governo promoveu a implementação de cisternas em várias cidades, sendo realizada a transferência de água entre rios, com estações de bombeamento em diversas regiões. Este mecanismo é acionado em períodos de seca extrema, o que garante o abastecimento emergente à população.

A Califórnia, uma das regiões mais populosas dos Estados Unidos, tem enfrentado secas sistemáticas. O governo definiu como meta economizar 1,8 trilhão de litros de água e reduzir o seu consumo em 20%. Houve ainda um aumento das tarifas da água e definidas multas de 500 euros por dia a quem for apanhado a desperdiçar água potável na lavagem de ruas ou de carros.

No Japão, todos os dias 15 de cada mês são considerados o “dia de economizar água”. A consciencialização é o grande trunfo do governo, que realiza campanhas massivas para diminuir o consumo voluntário de água. Houve ainda investimentos para captação de chuva e reaproveitamento de águas residuais. A indústria japonesa, famosa pelos avanços tecnológicos, também fez a sua parte e desenvolveu torneiras e chuveiros que diminuem o consumo.

Em Israel, país que luta contra a seca desde o seu nascimento, foi necessária a promulgação de leis claras para a utilização da água, com a criação de sistemas de economia e de regulação dos recursos hídricos. Foi preciso ainda o desenvolvimento de tecnologias capazes de extrair água até de geadas, que é revertida para a agricultura.

Enquanto achamos que o problema não nos atinge, desperdiçamos tempo e recursos que nos são vitais. É urgente sair da nossa cultura de abundância e, sobretudo, é preciso mostrar muito mais contenção na forma como utilizamos os recursos que temos. A sabedoria dos antigos é uma relíquia, nem sempre valorizada. Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia…

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