Somos Capital Verde! E agora?
A candidatura de Guimarães ao galardão de Capital Verde Europeia (CVE) é um tema já antigo e recorrente nas minhas crónicas. A primeira reflexão que partilhei neste espaço foi em 2015, e desde então já voltei a escrever sobre a CVE por mais meia dúzia de vezes.
Sempre fui crítico dessa candidatura. Fui (e sou) da opinião de que a pressa em atingir essa meta levou a que o percurso fosse feito em modo de contra-relógio individual, e não ao ritmo que inclui, envolve e compromete toda a comunidade. Como adverte o provérbio popular africano: se queres ir depressa, vai sozinho. Se queres ir longe, vai acompanhado. Na candidatura à CVE foi privilegiada a pressa. Foi uma corrida e não uma caminhada.
Nessas crónicas, fui também alertando para a discrepância entre a versão de Guimarães (fantasia verde) que tem sido apresentada nas candidaturas a CVE e a realidade no terreno, salientando que a persistência nessa comunicação exagerada pode resultar na alcunha de Capital da Ilusão Verde.
Apesar de o percurso ter ficado aquém do seu potencial, é justo que se reconheçam alguns méritos nestas candidaturas e se enalteça o trabalho que tem sido desenvolvido pelo Município e por toda a equipa do Laboratório da Paisagem. Não considero que Guimarães seja uma nulidade em termos ambientais, e, em alguns aspetos, até estará bem posicionada no panorama nacional, mas daí a ser reconhecida como um exemplo para a Europa vai uma longa distância.
Foi por todo este histórico que ao saber que Guimarães tinha ganho o concurso a Capital Verde Europeia não consegui sentir orgulho. Fiquei contente com o título, como é óbvio. Não por vaidade ou bairrismo, mas pelo seu potencial de motivação e transformação. Quanto ao orgulho, fica reservado para o dia em que sentir que existe uma atuação integrada, efetiva e genuína pela sustentabilidade ambiental em Guimarães.
Mas agora que somos Capital Verde Europeia 2026, não podemos deixar de capitalizar todo o potencial que essa distinção encerra, nem deixar de corresponder à responsabilidade individual e coletiva de agarrar esta oportunidade para fazer germinar um legado digno do orgulho dos nossos filhos.
É tempo de união, e para isso, julgo que também é tempo de parar de correr, respirar fundo e refletir de modo coletivo e humilde sobre o futuro do território e da qualidade de vida de quem dele faz a sua casa.