Um problema freudiano
Um inusitado cartaz da JSD - colocado numa rotunda de acesso ao burgo -instando os mais jovens à participação democrática através do voto espoleta fundadas indagações reflexivas, merecedoras, por isso, de análise, para que não caiamos na “indolor” lucidez Saramaguiana.
O epitáfio - permitam-me a rotulagem pela contundência que o mote encerra - é lacónico: «Só custa a primeira vez».
Se do idílico ato inaugural a mais generosa literatura de cordel apenas denotava a ânsia da demora, implícita na mensagem hodierna dos jovens laranjas aduz-se um sacrifício iniciático bem para lá do simbólico.
De facto, custa a um jovem ver a escola pública despojada do múnus político em que outrora confluía toda a comunidade educativa, presa, agora, ao centralismo do Estado central e local.
Custa a um jovem ter excelentes notas e ver-se limitado na escolha da universidade por falta de residências.
Custa a um jovem - quando não tem que interromper os sonhos para ajudar as famílias cada vez mais depauperadas - sair da universidade e enfrentar o desemprego, a emigração, ou um contrato “uberizado”.
Custa a um jovem romantizar a constituição de família e não ter o T2 da música do Ricardo Azevedo. E podia continuar...
Não pode é induzir-se da mensagem panfletária que o sacrifício, proposto pelos jovens políticos, conduza a um ulterior comodismo: pelo contrário! Isto apesar de quem, sendo jovem e albergue a camisola laranja com orgulho, veja os seus “velhos” (do Restelo) no contributo ativo e passivo para a “lambança” exemplificativa acima descrita em nome de uma incompreensível estabilidade na mediocridade.
Se é verdade que o partido em causa tem de - a bem da sanidade democrática do sistema, que impeça, aliás, a “mexicanização” do mesmo - livrar-se do “Pai Tirano” e sequelas imanentes, para não ter de sentar-se no divã averbando diagnósticos freudianos, bem pode ser a irreverência da sua juventude, que a isso nos habituou mesmo aquando de um certo conforto unanimista dentro das hostes nos idos anos 80 e 90, o dínamo crítico que estamos precisados para que, não só da primeira como em todas as outras vezes, a participação democrática, não seja um custo mas, se torne até, um certo deleite epicurista.