“A Coelima é uma marca que tem de se defender” – advogado da Mabera
“Se não tivéssemos feito esse esforço para essa proposta tão mais vantajosa, significaria que não acreditávamos na empresa. Acreditamos”, disse o advogado Moreira da Costa, à saída do edifício do Palácio da Justiça de Guimarães. A Mabera ofereceu a maior quantia para adquirir a Coelima entre as propostas de “carta fechada” abertas a partir das 18h00 de segunda-feira, e viu a compra ser legitimada nesta sexta-feira, na segunda assembleia de credores referente ao futuro da quase centenária empresa de têxteis-lar.
Acompanhado do administrador e acionista principal, José Dâmaso Lobo, o mandatário frisou que a Mabera obteve o “resultado esperado” face ao valor da proposta apresentada. Garantida a compra, Moreira da Costa reconheceu que “agora é que vão começar os verdadeiros problemas”, embora com a convicção de que os postos de trabalho vão ser defendidos e de que a Coelima, enquanto empresa e marca, também será salvaguardada.
“A empresa tem nome. Eu diria que é uma empresa que, ao nível têxtil, está ao mesmo nível da Vista Alegre para as porcelanas e para outro tipo de produto nacional”, comparou. “É uma marca que tem de se defender”.
Com a proposta de 3,637 milhões de euros aprovada, a Mabera passou a deter todo o ativo da Coelima e, segundo Moreira da Costa, está acautelada quanto ao cumprimento de todas as obrigações previstas. O mandatário pediu ainda aos trabalhadores para terem confiança “na nova gestão que vai ser iniciada”, com a esperança de que a Coelima “volte a ser uma empresa onde gostem de trabalhar”.
Questionado ainda sobre a capacidade da Mabera para adquirir e gerir a Coelima, o advogado esclareceu que a têxtil sediada em Mogege tem património cujo valor ronda os 25 milhões de euros e 162 trabalhadores na área dos acabamentos têxteis, que está a ser desenvolvida por uma outra empresa que lhe está associada, a Perfil Cromático.
“É preciso enobrecer esta empresa”
Presidente do Sindicato Têxtil do Minho e de Trás-os-Montes e trabalhador da Coelima, Francisco Vieira enalteceu a “coragem” e o “sentido de responsabilidade” da Mabera, a compreensão do administrador da insolvência, Pedro Pidwell, quanto à necessidade de se arranjar uma solução que evitasse a morte da empresa, o consórcio Felpinter/Mundotêxtil, que ofereceu 2,615 milhões de euros, para a aquisição e ainda a proposta do consórcio RTL/José Fontão, que, à data da apresentação, evitou que a têxtil fechasse a 31 de maio, com o despedimento dos 250 trabalhadores.
Fechado o processo de aquisição dos bens, o dirigente sindical olha para o futuro de uma empresa com 99 anos e cujo busto do fundador será inaugurado no sábado, em Pevidém. “Não só acredito que haverá trabalho, como espero que a empresa venha a admitir novos trabalhadores”, vincou. “Esta empresa verá inaugurado, no sábado, o busto do fundador e, para o ano, fará 100 anos. É preciso enobrecer esta empresa”
Convicto de que o fundo de recuperação detido pela ECS (empresa com capitais maioritariamente do Estado) e a MoreTextile “empurraram a Coelima para a morte”, Francisco Vieira destacou ainda o facto de, 30 anos depois, a Coelima ter novamente um patrão ligado à indústria têxtil.
O responsável pediu, assim, que a compradora mantenha o projeto industrial da Coelima e defenda o emprego, respeitando os direitos dos 255 trabalhadores, para que possa “retomar os caminhos de prosperidade e de bem-estar, com pagamentos a tempo e horas”. Se assim for, a nova proprietária vai “poder contar com os trabalhadores do topo à base”. “Os trabalhadores não querem apenas o salário ao fim do mês. Querem sentir que vale a pena o seu empenho, porque também está a ser reconhecido o seu empenho”, realçou.
Preocupado com os trabalhadores da Coelima que neste momento estão na António de Almeida & Filhos, outra das empresas do grupo MoreTextile, em Moreira de Cónegos – a Mabera também já fez uma proposta para a comprar -, Francisco Vieira justificou ainda a abstenção dos trabalhadores na votação com a “controvérsia” que já esperava: um desses exemplos foi a licitação proposta pelo consórcio Mundotêxtil/Felpinter, a quem agradeceu por, depois, ter facilitado o processo de votação. “Ao retirar a proposta, o doutor Gonçalo Gama Lobo deu um contributo muito decisivo para que os trabalhos terminassem mais rapidamente”, detalhou.
31 de julho é o horizonte para a escritura
Ciente de que a venda da Coelima já tinha “sido alinhavada na assembleia anterior”, o administrador da insolvência realçou que a sua obrigação era a de “pugnar pela potenciação do valor dos bens”; ou seja, a “proposta do valor mais alto”. “Foi identificada a melhor proposta, que foi aprovada por uma esmagadora maioria dos credores. O plano está em marcha. Vamos trabalhar para concretizar isso o mais rapidamente possível”, disse Pedro Pidwell, à saída do tribunal.
Convencido de que fez tudo para a Coelima se manter no mercado, o administrador judicial esclareceu que os postos de trabalho serão transmitidos à Mabera, cabendo à nova proprietária da Coelima “fazer o que tiver de fazer” quanto ao futuro.
Questionado sobre a escritura de compra e venda, Pedro Pidwell disse estar a trabalhar para que aconteça em julho. O advogado da Mabera esclareceu que está previsto efetuar a escritura até 31 de julho, prazo que lhe parece “curto”. “Pessoalmente, parece-me muito curto o tempo, porque há muita coisa a regularizar. Mas estamos aptos para a fazer logo que seja possível”, avançou Moreira da Costa.