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“A gente ajuda-se e aconchega-se”: Thiago vê isso todos os dias no seu café

Pedro C. Esteves
Sociedade \ quinta-feira, janeiro 26, 2023
© Direitos reservados
A breve história do Café Expressivo, em Guimarães, é, tal como a de Thiago, de "adaptação". No berço há pouco tempo, percebeu que "o povo estava carente" de um ambiente como o que construiu.

Thiago Santos não tem dúvidas: tem chegado “muita gente nova”. No café que abriu recentemente com vista para a Plataforma das Artes, conhece quem chegou do Brasil e está em Guimarães há anos e quem tem uma semana de cidade. Sente que tem contribuído para criar uma comunidade. “Está a ser muito interessante”, diz ao Jornal de Guimarães. Cá fora, na esplanada, há quem partilhe pão de queijo à volta de uma mesa. Dentro, ouve-se a voz de Adriana Calcanhotto cantar “Esquadros”. O café Expressivo tem sido local de comunhão para a comunidade brasileira – mas não só.

“Já vi acontecer à minha frente coisas muito interessantes. Um sabe de emprego e diz ao outro; um sabe que pode haver oportunidade de trabalho e diz ao outro; um conhece quem tenha um quarto para arrendar e informa. Já vi uma pessoa que trabalha num restaurante a dizer a uma que acabou de chegar, ‘passa por lá, que acho que há alguma coisa’”, relata.

Quer gizar um espaço onde “todo o mundo” se sinta em casa. Na vitrina há brigadeiros e bolo de cenoura, e a “coxinha” e o feijão já vão saltando para os pratos. “Percebi que o povo estava carente desse ambiente, de algo que lembrasse um pouco o Brasil”, explica o brasileiro “sem sotaque” – natural de São Paulo, Thiago já morou na Bahia, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Em Portugal, ainda não fez tantos quilómetros: antes de Guimarães, apenas Aveiro, onde tem família. Estes périplos estão intrinsicamente ligados à "identidade e formação do café". Em cada canto, o paulista aprendeu pratos diferentes, "várias comidas regionais". "Consigo também conectar-me um pouco com cada um, conheço a realidade de cada um, adapto-me facilmente."

Agora, é a vez do mundo entrar pelo café. Já fez amigos com quem entrou porta adentro. “Temos estado muito unidos. Depois do trabalho saímos, vamos sentar-nos na relva perto do Castelo ou vamos para o Convívio, onde tem havido festas brasileiras. Ainda agora há pouco, no Natal, juntámo-nos aqui todos, éramos uns 12, e fizemos o que chamamos de ceia dos sem família”, atira, entre risos.

Um café que é como a “gente”: adapta-se

Quando Thiago abriu o Expressivo, a ideia passava por moer o melhor grão e trazer sabores da América do Sul para Guimarães. Mas a prática reverteu a teoria: “Percebi que o mercado aqui não está habituado, gosta mais do café tradicional.”

O menu é, agora, uma mistura de dois mundos. Colocava-se a questão: comida portuguesa ou brasileira; o pastel de nata ou o brigadeiro. A conclusão foi simples: e porque não os dois? “Ao princípio não sabia qual o tamanho da comunidade brasileira aqui, não conhecia ninguém e fui atrás de fornecedores para pasteis de nata e croissants”, lembra. Agora, o pastel português disputa espaço na vitrina iluminada com o bolo de cenoura. Ao almoço, o sucesso é das iscas de frango e feijão.

“No fundo, são pratos muito simples. Esperava que viessem muitos brasileiros e vierem muitos portugueses”, relata. Inicialmente uma surpresa, agora é natural: “A gente vai-se conseguindo organizar, ajuda-se e aconchega-se”: o Café Expressivo já não é corpo estranho. Como Thiago, adaptou-se.

Este trabalho integra a série "Guimarães, cidade bacana". O trabalho completo pode ser lido no jornal em papel de janeiro e os depoimentos estão nesta ligação.

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