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APCG: “Temos apoios de algumas empresas, mas esperava bastante mais”

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ domingo, setembro 17, 2023
© Direitos reservados
Sediada em Pencelo desde 2004, a Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães (APCG) aguarda a conclusão de um novo edifício para mais do que duplicar a oferta de camas.

Convencido de que Guimarães, enquanto concelho com inúmeras empresas, poderia ajudar mais a APCG, Joaquim Oliveira - Presidente da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães -realça a importância de atividades como a caminhada e a Gala dos Afetos, com regresso previsto em 2024, para dar a conhecer a instituição e os seus utentes.

 

Como é que surgiu a ligação do Joaquim Oliveira à APCG, aquando da fundação, em 1994?

Não. Sou presidente da APCG há 17 anos. A minha ligação surgiu aqui, neste edifício. A APCG estava no antigo hospital, nuns contentores. Depois fez-se esta obra. Já estava ligado à instituição, porque fazia contabilidade. Depois, fui convidado a concorrer a umas eleições, ganhámo-las e cá estou.

 

Quais eram as principais necessidades da instituição à época?

Quando entrei, uma das coisas com as quais nos preocupámos foi a de aumentar o quadro técnico. Metemos mais uma equipa no quadro técnico, mais um fisioterapeuta, mais um terapeuta da fala e mais um terapeuta ocupacional. Discutimos os acordos com a Segurança Social, porque o acordo para o lar e para o CAO [Centro de Atividades Ocupacionais] estava muito abaixo da capacidade instalada. Os apoios que recebíamos eram para um número menor do que os utentes que atendíamos.

 

É então no quadro técnico que se verifica a principal evolução da APCG nos últimos 15 anos?

Na altura, tínhamos pouco mais de 20 funcionários. Agora temos 64, metade técnicos e metade auxiliares. Aumentámos o número para dar mais qualidade de vida aos utentes: os que nos frequentam e aqueles que estão cá. No lar residencial, temos 18 utentes. O mais velho tem 66 anos. Só utentes acima dos 18 anos podem ser internados. De resto, temos o CAO, em que entram às 09h00 e saem às 17h00. Vão ao supermercado para saberem lidar com dinheiro, para saberem comprar qualquer coisa, para irem à praia. Gostam muito de ir a Fátima. Há dois anos, estiveram numa quinta no Algarve por uma semana. Dentro das nossas possibilidades, tentamos dar-lhes a melhor qualidade de vida.

 

O novo edifício da APCG foi anunciado em 2016 e as obras arrancaram em 2021. O que é que acrescenta?

Vai ter mais 30 camas para o lar residencial e mais 30 para o Centro de Atividades Ocupacionais. Pensava inaugurá-lo em julho, mas as obras atrasaram, e de que maneira, por causa da covid-19, que provocou a falta de material e da falta de mão-de-obra. Tudo se atrasou. Falta instalar a Internet e ver o sistema de incêndio. Julgo que isto estará arrumado em 15 dias. 

 

Perspetivam-se então mais obras de expansão?

Isso é mais difícil. O terreno está a acabar, e a única solução era comprar um bocado de terreno ali ao lado. Não sei se será possível comprar, se o vendem. Há ali uma pequena quinta e um canto ligado ao nosso. Depois há um caminho. Depois começa verdadeiramente a quinta. Aquele bocado dava, à vontade, para fazer mais um ou dois edifícios. Para já, temos muitas dores de cabeça para pagar tudo o que devemos.

 

O que devem no contexto desta obra? Perante essas obrigações, têm sentido muito apoio da comunidade vimaranense, em donativos ou na adesão às iniciativas solidárias como a caminhada solidária?

Do concelho de Guimarães esperava um bocado mais. Começámos com as caminhadas quando vim para aqui, porque a APCG não era conhecida. A APCG era intitulada como um elo qualquer da CERCIGUI. Não é. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Então começámos com as caminhadas. Começámos com mil e tal pessoas, chegámos às quatro mil e tal pessoas, mas esse número está a baixar. Está a baixar, porque agora há muitas caminhadas. Fomos os primeiros, éramos os únicos e cada vez tínhamos mais gente. Temos apoios de algumas empresas, mas, para o número imenso de empresas no concelho de Guimarães, esperava bastante mais. Esperava que a responsabilidade social das empresas não fosse vir aqui e pintar uma parede. Seria benéfico para a instituição que houvesse donativos. Há empresas às quais não lhes pedimos nada e que nos mandam todos os anos cheques. Há empresas assim, mas a maior parte não o faz. A responsabilidade social das empresas deveria ser maior. 

 

A APCG tem então dependido de algumas empresas que a financiam sempre?

Sim. São aquelas que normalmente estão nas t-shirts das caminhadas. 

 

A obra custou cerca de 1,4 milhões de euros, com 900 mil euros do Norte 2020...

Mas já aumentou: vai em 2,7 milhões. Os fundos aumentaram 136 mil euros. Foram para um milhão e 36 mil euros. Mas só a obra disparou para os 2,7 milhões. Falamos ainda da dificuldade de rechear o edifício. É preciso todo o equipamento, que custa uma fortuna. Pensamos colocar uma placa com o nome da empresa na entrada de cada quarto. O quarto seria doado por essa empresa e ficaria uma placa na entrada, a dar conta de que o mobiliário foi doado por aquela empresa. 

 

Com o novo edifício, a APCG vai cobrir todas as necessidades da população que serve - Guimarães, Vizela, Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto, Felgueiras? 

Temos recebido pedidos até do Algarve. Há dificuldade em ter camas. Mesmo com este edifício, continuamos com lista de espera. Todos os dias tentamos melhorar a qualidade, tanto na alimentação, como na limpeza. Esta é uma casa aberta a quem a quiser ver.

Escola de boccia é desejo numa instituição sem “coitadinhos”

A APCG organiza mais uma caminhada solidária em 17 de setembro, mas já levou a cabo outras iniciativas para dar a conhecer o seu trabalho e os seus utentes. Uma delas é a Gala dos Afetos, organizada pela primeira vez em 2017, no Centro Cultural Vila Flor, e pela segunda em 2019, no Multiusos, sempre em outubro, mês em que se assinala o Dia Nacional da Paralisia Cerebral – dia 20. “Eventos como esse são importantes para que as pessoas comecem a ter uma mentalidade diferente relativamente às pessoas com deficiência, para que não julguem que são uns coitadinhos, fechados em quatro paredes”, realça Joaquim Oliveira.

A terceira edição estava prevista para este ano, com artistas já em mente, mas o risco de prejuízo em tempo de “dificuldades monetárias”, ditou o adiamento para 2024, ano em que se cumpre o 30.º aniversário da instituição, ainda responsável pela prestação de serviços de reabilitação a cerca de 120 utentes regulares - fisioterapia, terapia da fala, psicologia, assistência social e assistência a utentes com problemas neurológicos.

Com mais de 300 sócios, a instituição está ainda a criar um site “mais modernizado” e assume o desejo de formar uma escola de boccia, modalidade em que reúne, para já, quatro atletas. “Gostaríamos de ter uma escola de boccia. Temos um pavilhão onde os atletas treinam”, frisa o dirigente. Entre eles, surge Cristiana Marques, vencedora do Prémio de Desporto Adaptado na Gala do Desporto de Guimarães em 2022, após colecionar medalhas em várias provas, mas há mais. “O Miguel Gomes tem evoluído bastante. Era uma pessoa muito nervosa e ia para os torneios fazer o contrário do que lhe tinham ensinado. Mas tem evoluído. Não está ao nível da Cristiana, mas, com o tempo, é capaz de lá ir”, sugere.

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