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“Preservação” e “turismo industrial” a levedar nos Fornos da Cruz de Pedra

Bruno José Ferreira
Cultura \ quinta-feira, abril 27, 2023
© Direitos reservados
Memória do oleiro Joaquim Oliveira será evocada na sua antiga casa. E a Cantarinha dos Namorados também, naquele que pode ser futuro “ponto de entrada para a Rota do Turismo Industrial” em Guimarães.

Domingos Bragança anunciou para “breve” a inauguração dos Fornos da Cruz de Pedra, um lugar que “faz parte do imaginário de Guimarães”, vincou o presidente da Câmara Municipal de Guimarães em junho de 2017, já lá vão quase seis anos, na apresentação pública do projeto de reabilitação daquele que é o último exemplo da arquitetura industrial vernacular existente na rua das Lameiras, em Creixomil.

Presidente da Junta de Freguesia de Creixomil na altura, José Martins olhava para o projeto dizendo que seria “concretizado um sonho para as pessoas da Cruz de Pedra”, habituadas a conviver com este monumento que integra a Zona Especial de Proteção do Núcleo Urbano da cidade de Guimarães. Ao passar naquela rua, percebe-se que a intervenção está já numa fase adiantada; naquela que outrora foi a oficina e antiga casa do oleiro Joaquim Oliveira, com os dois fornos voltados para a rua, é percetível que este pequeno espaço vai ganhar nova vida.

Uma nova vida assente em múltiplos pilares, desde logo com a preservação do espaço, uma vez que as técnicas de construção tradicionais estão a ser utilizadas para manter a identidade e o espírito daquele sítio. Para lá da componente física, há um conceito que o município pretende implementar, que vai desde a produção da Cantarinha dos Namorados, numa vertente cultural e formativa para que se dê seguimento a este legado, mas também abrange o turismo industrial, ateliês de criação e espaço museológico. Ou seja, há vários conceitos a levedar nos Fornos da Cruz de Pedra.

 

Forno de olaria na rua da Lameira, na Cruz de Pedra ©JdG/Bruno José Ferreira

Forno de olaria na rua da Lameira, na Cruz de Pedra ©JdG/Bruno José Ferreira

 

“Ponto de entrada para a rota do Turismo Industrial em Guimarães”

Uma das ideias-chave do município é fazer com que este seja “um espaço museológico e centro de documentação digital direcionado para as proto indústrias de Guimarães”, dá conta Paulo Lopes Silva ao Jornal de Guimarães. O vereador, que entre outros tem como pelouros o turismo e a cultura, detalha que esta componente museográfica irá para além da olaria. “Queremos passar pela cerâmica, pela memória das proto indústrias que Guimarães tem história e tradição”, aponta, explicando que se pretende “contar a história proto industrial de Guimarães”, não só do artesanato, mas de vários setores como os couros, as cutelarias, o têxtil e todas as áreas “em que Guimarães se foi afirmando ao longo dos anos”.

Esta vertente da proto industria, um conceito relacionado com a produção artesanal, insere-se numa estratégia mais ampla que tem como objetivo “começar a desenvolver o projeto do Turismo Industrial em Guimarães”. O espaço dos Fornos da Cruz de Pedra é visto como “o ponto de entrada do Turismo Industrial no concelho”, aponta Paulo Lopes Silva. De resto, os antigos Fornos da Cruz de Pedra encontram-se inscritos no Portal dos Monumentos, do Governo, como parte da Rota Industrial do Vale do Ave.

“Temos em Guimarães várias unidades de indústria vivas que podem abraçar esta ideia do turismo industrial. Não faz sentido criar uma grande unidade, sendo que este pode ser um espaço que funcione como polo central, agregador e dinamizador de todas essas valências existentes no território, funcionando como um espaço central de todos esses projetos”, destaca o vereador, elencando que este pensamento no turismo industrial vai ao encontro à dimensão da criação que está também projetada.

Isto porque a criação não será apenas vocacionada para a olaria, mesmo sendo esse um dos principais propósitos da requalificação dos Fornos da Cruz de Pedra. O vereador tenciona que os ateliês sejam “abertos à comunidade” e que funcionem numa lógica de “cruzamento entre o tradicional e o contemporâneo”, sempre em ligação com as artes. “Uma das parcerias que pretendemos afirmar naquele espaço será a ligação, aparentemente menos evidente, mas que se poderá tornar muito interessante e na qual Guimarães se quer afirmar, entre as artes tradicionais e o têxtil”, complementa.

 

Espaço que servirá como centro interpretativo © JdG/Bruno José Ferreira

Espaço que servirá como centro interpretativo © JdG/Bruno José Ferreira

 

Olaria: dar seguimento à Cantarinha dos Namorados e homenagear Joaquim Oliveira

Mas a principal missão desta intervenção é, sem dúvida, a olaria, daí que se esteja a fazer um trabalho especializado de preservação dos dois fornos existentes no edifício. “A parte traseira do edifício será direcionada, por um lado, para a criação da Cantarinha dos Namorados, o nosso produto de artesanato certificado, mas ao mesmo tempo teremos uma zona vocacionada para a mediação cultural e trabalho educativo com workshops e formação”, salienta Paulo Lopes Silva. Instruir pessoas que, no futuro, sejam capazes de dar seguimento a esta tradição vimaranense, manufaturada desde o século XVI até aos dias de hoje.

Nesta equação, será obviamente evocada a memória de Joaquim Oliveira, o último oleiro que deu seguimento à Cantarinha dos Namorados, precisamente na Cruz de Pedra, em que manteve a técnica de aplicar pó de mica numa cantarinha de barro. Em tempos chegaram a ser três dezenas os artesãos que produziam este ícone do artesanato vimaranense, devidamente certificado, e Joaquim Oliveira foi um dos principais responsáveis por transportar até aos dias de hoje a tradição. “A preservação da casa do oleiro, Joaquim Oliveira, serve para evocarmos a sua memória no próprio espaço, porque é uma pessoa com uma importância singular para o artesanato em Guimarães e para a Cantarinha dos Namorados, em especial. É uma forma de lhe fazermos justiça no sítio onde viveu e trabalhou”, transmite o vereador da cultura e presidente d’A Oficina, entidade que tutela a conceção da Cantarinha dos Namorados.

Ainda não há uma data definida para a inauguração desta requalificação. A obra está ainda a decorrer, numa etapa adiantada, estando o município a trabalhar na vertente programática e de conteúdos. Situados numa rua estreita, e já algo fora do centro nevrálgico da cidade, Paulo Lopes Silva crê que os Fornos da Cruz de Pedra serão mais um atrativo de uma zona para a qual a cidade se está a estender com os equipamentos que estão a ser desenvolvidos para este espaço, como a Escola Hotel do IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave – que entrará em obra ainda este ano –, a Escola de Engenharia Aeroespacial na Fábrica do Arquinho, a Ciência de Dados da Universidade do Minho e a Fundação Fibrenamics. “Está a ser desenvolvido um cluster do ponto de vista da criação, da criatividade, da cultura e da interligação entre criativos e indústria neste ponto da cidade. Não se trata apenas de uma expansão de crescimento urbano, é uma expansão com objetivos muito concretos no modelo de desenvolvimento do território”, conclui. Os Fornos da Cruz de Pedra, intimamente ligados à tradição do artesanato em Guimarães, são uma das peças desta expansão.

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