Guimarães, cidade bacana: Fágner, um “rei” de pente e tesoura "conquistado"
Numa das primeiras noites em Guimarães, Fágner Costa foi dar um passeio com um amigo e conhecer a cidade que, até então, só vira em imagens. A noite tinha caído e às 23h00 a Avenida Conde Margaride fazia-se de silêncio. Quando vê um “casal” aproximar-se, estranha não atravessarem para o outro lado da estrada. Tinha aterrado há um par de dias e no Brasil, num contexto igual, dava a volta e vinha para trás. Não o fez. E o “casal” também não – seguiram em frente e “ainda cumprimentaram para dizer boa noite”. Para Fágner, foi “um espetáculo”. “Com isso, Guimarães conquistou-me rápido”, diz.
Ainda não o sabia, mas naquele dia de janeiro passou a poucos metros do negócio que viria a ocupar. Tinha a vida por fazer. Fágner, estudante de psicologia e representante comercial no Brasil, que chegou a Guimarães para trabalhar numa fábrica de elásticos, viria a ser o “rei” do barbeiro. Pelo menos é isso que está à entrada dos três salões que abriu em Guimarães. Começou a Barber King na Conde Margaride. Antes de virar “rei”, ganhou prática a cortar o cabelo a amigos e trabalhadores da fábrica onde esteve. Chegou “antes deste movimento” que trouxe muitos brasileiros para Guimarães.
São conhecidas as histórias de Braga e Guimarães está longe da popularidade do vizinho minhoto. É complicado quantificar o número de brasileiros a residir em Guimarães (e se a comunidade cresce), mas há indicadores que parecem apontar para a perceção de Fágner. Dados facultados ao Jornal de Guimarães pela Divisão de Ação Social da Câmara Municipal de Guimarães dizem que o número de atendimentos nos balcões a cidadãos brasileiros vem a subir desde 2020 e atingiu o pico em 2022, com 573 atendimentos. O portal de estatísticas do SEF diz que em 2021 havia 1292 brasileiros com título de residência em Guimarães. Braga acolhe mais de 7000.
Quem te cortou o cabelo? “O Costa”
O que fazia com pente e tesoura ganhou adeptos e quando o nordestino de Campina Grande, estado de Paraíba, deu por ela já fazia do serviço ao domicílio rotina. Aprimorou o equipamento porque à pergunta “quem te cortou o cabelo”, a resposta era sempre uma: foi o Costa. “Como o pessoal tinha dificuldades me dizer Fágner, ficou o Costa. Comecei a cortar ao sábado, na minha folga”, explica ao Jornal de Guimarães no salão de Ponte.
E foi assim que um estudante de psicologia se transformou, anos depois, num barbeiro. Aproveitou também o conceito de “barbershop”, na altura“pouco explorado” em Portugal – na Barber King, os cortes são por marcação e há uma consola de videojogos, café, cerveja e snacks para “dar conforto” a quem entra na barbearia. E há muito Brasil em qualquer um dos estabelecimentos. Cruza-se com muitos brasileiros nas cadeiras da Barber King e reforça que “segurança e tranquilidade” são o principal atrativo da cidade que tem recebido “muitas pessoas” do Brasil nos últimos anos. Mas há obstáculos.
“Quem vem procura qualidade de vida, segurança e tranquilidade. O problema maior atualmente é o arrendamento. Não é trabalho, isso encontra-se passado quinze dias ou um mês, complicado é arranjar casa. Há muitas pessoas a viver em quartos, com a família. Quando se encontra é muito caro, paga-se 500 ou 600 euros por um T2, e as pessoas ganham 700 euros”, indica.
E isso é desmotivador para quem, por vezes, traz “expetativas demasiado altas”. Fágner também já conheceu quem veio, viu e regressou. Ele prefere ficar. “Gosto muito daqui, mas quero morrer lá”, resume. “Para já não me vejo a voltar. Mais não seja pela questão da segurança. Tenho um filho que é português, tem um ano e três meses, e se a educação daqui não fosse melhor do que a de lá ponderaria regressar. Mas, neste caso, como Guimarães e Portugal oferecem isso, prefiro ficar aqui”, atira.