Guimarães Project Room: a galeria informal que é prova de vida artística
As vetustas paredes do claustro da Colegiada de Guimarães revestem-se com pinturas de três vimaranenses contemporâneos, mas não da mesma geração: veem-se os anos 60 e 70 com José de Guimarães e as influências de Picasso e Rubens, as alusões a Velázquez e Rembrandt por José Almeida Pereira, em obras representativas da transição para o novo milénio, e as referências de Miguel Ângelo Marques a Van Gogh e Duchamp num percurso com quatro anos. Este é o painel de Figuras no pensamento visual crítico – parte I, a exposição inaugural do Guimarães Project Room, patente desde 16 de julho.
Esse fruto com curadoria de Fátima Lambert é o primeiro de uma ideia maturada por Pedro Silva nos últimos anos. A partir da relação com algumas instituições culturais da cidade – a Oficina, em particular -, o artista detetou a falta de um espaço regular para aqueles que “pintam, esculpem, fotografam e ilustram a partir deste território”.
É certo que já havia programação regular de arte contemporânea com o Centro Internacional de Artes José de Guimarães, o Palácio Vila Flor e o Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura, mas não um lugar “experimental e até livre”. “Uma das constatações que fazíamos era a de que não havia uma galeria de arte. Tivemos a Gomes Alves durante muito tempo e a Fuga pela Escada. A ideia do Project Room é a de mostrar arte de forma informal num espaço mais formal”, diz o coordenador da iniciativa.
Financiado no âmbito do IMPACTA, regulamento da Câmara Municipal de Guimarães para o apoio às atividades culturais, o projeto avançou com um outro compromisso: o de cartografar os artistas que criam ou têm vínculo a Guimarães. “Já conseguimos encontrar cerca de 60 artistas”, estima Pedro Silva. Desses 60 criadores, 40 estão na plataforma digital Em Guimarães, com links para as respetivas obras.
Esse reconhecimento é a prova de que “existe criação”, independentemente dos artistas viverem ou não no território. declara Pedro Silva. Os três protagonistas da exposição em curso mantêm a ligação a Guimarães, apesar de viverem fora. “O José Almeida Pereira foi trabalhar para o Porto, mas, numa conversa, dizia que Guimarães persegue-o”, conta.
Expor para lá do white cube
Enquanto contempla as pinturas, o coordenador desta aventura artística questiona-se acerca das paredes que a sustentam: “Deveriam ter um caráter mais museográfico, sendo pintadas, ou deveriam estar a cru?”. A segunda opção foi a escolhida enquanto metáfora de algo inacabado.
Aquele claustro de arquitetura românico-mudéjar está sob a responsabilidade do Museu Alberto Sampaio, palco da exposição no âmbito do programa “Museu à Noite”, em curso até 12 de setembro. Um dos motivos para a escolha, vinca Pedro Silva, é o de desafiar os artistas a “saírem do white cube” – termo em inglês que descreve um espaço branco e neutro. “Aqui o espaço neutro não existe”, reitera.
A configuração daquele espaço possibilita várias “dinâmicas expositivas” que serão aproveitadas nos próximos ciclos, já calendarizados até abril; as obras de Max Fernandes e de Carlos Lobo vão suceder às que estão agora patentes, entre setembro e novembro. Em vez do claustro, envolto em “questões de conservação sensíveis”, a arte estará patente nas salas do museu.
Mas o Guimarães Project Room quer estender-se no tempo; o coordenador da iniciativa tenciona elaborar mais candidaturas ao IMPACTA para sustentar uma plataforma na qual os artistas podem dar-se a conhecer, “integrar coleções”, “estar noutros museus” e até vender as obras.