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As tintas artesanais de Leonel Costa perduram no tempo

Pedro C. Esteves
Cultura \ quinta-feira, janeiro 27, 2022
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Não há muitos a fazer o que Leonel faz em Moreira de Cónegos. Artesão, conservador-restaurador, produtor de tinta artesanal faz algo único na Península Ibérica e o trabalho já chega a muitas paletas.

“É a coisa que mais me apaixona: perceber como as coisas se fazem”. A partir de Moreira de Cónegos, Leonel Costa produz tintas artesanais à base de óleo e o que faz no seu atelier, a Dartecor, na vila a sul do concelho, está já plasmado nas telas de pintores como Carlos Barahona Possollo, o vimaranense Rafael Oliveira ou a artista figurativa Ana Monteiro. Não são muitos a fazer o que faz. Na Península Ibérica é “talvez o único”, estima.  Mas porque é que um conservador-restaurador de formação, que coloca “a ciência ao serviço da arte”, se dedica, desde 2016, a fabricar tinta que é “uma verdadeira mais-valia” para os pintores?

É uma história de complementaridade, mas é preciso recuar a 2016 para a contar, altura das “primeiras experiências”, resultantes de uma formação no atelier de Carlos Barahona Possollo. “Isto começou com uma ideia romântica”, resume o “colourman” de 33 anos, que deu conta de uma falta de tintas a óleo profissional no mercado. Formado em Conservação e Restauro, assume-se como um “cientista da arte”. “De certa forma, não crio nada a nível concetual”, explica. Verbos como “misturar” ou “transformar” encaixam melhor no percurso do vimaranense. Saber selecionar os materiais e os processos usados para fabrico de tintas puras, sem misturas, está intimamente ligado à formação de conservador-restaurador. “O facto de saber interpretar os materiais, quais os que se comportam melhor, os que reagem melhor em determinadas condições, ajuda no processo de criação”.

“Dignificar”: a missão de um conservador-restaurador

A palete de artistas a pintar com a marca d’água Dartecor vai crescendo – mas para isso acontecer foram precisos “meses de contactos” e muitos meses passados estradas fora para dar a conhecer o produto. “Comecei por fazer demonstrações, experiências, peguei nos poucos contactos que tinha e andei na estrada um ano e meio”, recorda. Criou-se uma rede de artistas, “despertou-se interesse” e já acontece o reverso: os artistas também já contactam a Dartecor. 

O objetivo de Leonel é que “o próprio pintor tenha uma experiência única a trabalhar as tintas”. E como se tratam de misturas extremamente duradouras, as pinturas vão conservar o trabalho levado a cabo naquele atelier em Moreira de Cónegos. “Quando vejo uma pintura em que foram usadas as minhas tintas sinto que é também um bocadinho minha”, diz

Mas antes das tintas havia a conservação e o restauro – e ainda continua a haver. Entra-se no escritório de Leonel Costa e há duas pinturas e um crucifixo da capela da igreja do Hospital de Guimarães à espera que lhes sejam devolvidas a “dignidade” que foram perdendo – “são processos demorados, mas gratificantes”, pontua. Já participou em intervenções na Catedral do Funchal, na Sé de Lamego, ou nos Clérigos, por exemplo. “O objetivo era parar o restauro, porque é um desgaste enorme para uma pessoa só, mas não é assim tão evidente. E a nível de conceito e projetos, ligar a conservação e restauro e a Dartecor faz todo o sentido. Um acaba por dá carisma ao outro”, refere.

Até porque o percurso de Leonel Costa é bastante singular: “afunilar” pode ser um verbo chave para alguém que gosta “de ir a todos os lados” e está presente em vários momentos do processo criativo. É que Leonel pode intervir na peça quando é preciso um restauro; mas também – e isso há “poucos restauradores a fazer” – posicionar-se “como conversador-restaurador no processo de concetualização da própria peça”: “Eu também faço esse trabalho de formação e consultoria junto dos artistas quando eles têm dúvidas sobre os materiais e como eles funcionam. Como conservador-restaurador também me posiciono no início da vida da obra”.

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