Nas Ecorâmicas, falou-se de “decrescer”. A ideia é levar o tema à sociedade
Crescimento, crescimento verde, decrescimento, dívida ecológica e cuidado: estas cinco ideias guiam o documentário Fairytales of growth (“Os mitos do crescimento”, em português), trabalho de Pierre Smith-Khanna, que encapsula, em 47 minutos, as discussões suscitadas pela nona edição das Ecorâmicas, mostra de cinema documental organizada pela Associação Vimaranense para a Ecologia (AVE).
Esse documentário precedeu o debate de sábado, no qual sobressaiu a ideia de que é um erro culpar as ações individuais das pessoas como responsáveis maiores pelas alterações climáticas. No painel que reuniu três pessoas ligadas à Rede para o Decrescimento – o arquiteto e urbanista Alcides Barbosa, a socióloga Graça Rojão e a investigadora em sistemas de produção e consumo Ana Poças Ribeiro -, apelou-se à realização de assembleias de cidadãos para pensarem a ecologia dos lugares que habitam e terem, consequentemente, mais margem de reivindicação perante o poder político.
Deram-se também sugestões de aplicação de princípios decrescentistas na sociedade nas comunidades locais; enquanto o crescimento verde prioriza o crescimento económico sem as emissões de dióxido de carbono (CO2), algo que, a larga escala, depende de tecnologias ainda no papel, como a BECCS – processo de consumo e armazenagem de CO2 a partir de bioenergia -, o decrescimento aponta caminhos para reduzir produção e consumo, a nível do quadro jurídico de um país – aumentar o período de garantia dos produtos para combater o que se designa de “obsolescência programada” – ou de uma comunidade local – trocas de produtos usados, como o Troc@ a Todos, na cooperativa CooLabora, dinamizada por Graça Rojão.
O documentário mostrou-se cético quanto à capacidade de humanidade cumprir “o orçamento ambiental” de limitar o aumento da temperatura média em 1,5 graus até 2100. A socióloga da Universidade da Beira Interior afirmou também que é mais provável a humanidade mudar de estilos de vida pelo “desastre” do que por uma “mudança de design”. E o presidente da AVE, Paulo Gomes, expressa opinião semelhante.
“Começo a acreditar que a mudança em sociedade será difícil ou impossível. Individualmente devemos mudar, mas enquanto sociedade está a ser muito difícil evitar a desgraça que se adivinha. Temos de nos ajustar aquilo que vem, mais do que o evitar”, refere ao Jornal de Guimarães, a propósito do evento decorrido no sábado e no domingo, no complexo multifuncional de Couros, com oito filmes e dois debates.
Agradado pelas Ecorâmicas terem atraído mais de uma centena de pessoas nos dois dias – “muita gente até nem estava ligada à AVE” -, o dirigente vincou que o tema abre “novos horizontes e novas perspetivas” à associação. A intenção é alargar o debate, a começar pelas escolas: “Já fomos à EB 2 e 3 João de Meira e à EB 2 e 3/S Santos Simões. Vamos, no dia 11, à Escola Secundária Francisco de Holanda. Faremos mais contactos com as escolas”.
“Via do Avepark é um erro”: AVE quer discuti-la com a população
Além das ações nas escolas e das caminhadas, a associação quer levar a discussão do território às populações. O primeiro tema é a via projetada para o Avepark, investimento anunciado em 2017, num valor inicialmente estimado em 18,4 milhões de euros, para ligar a saída da autoestrada, em Silvares, ao parque de ciência e tecnologia de Barco, através de uma nova estrada por Ponte, União de Freguesias de Prazins Santo Tirso e Corvite e Santa Eufémia de Prazins.
Ainda que estradas possam ser assunto pouco popular para se discutir com a população – “por norma, a maioria acha que é uma coisa boa”, diz Paulo Gomes -, a AVE quer fazê-lo. “A primeira tertúlia será sobre a via do Avepark. É um erro e vamos discuti-la. Estamos a pensar lançar um debate e fazer uma caminhada nas zonas por onde passar a via. Pensa-se, por vezes, que é mais uma estrada, mas estas coisas fazem muitos estragos e, depois, vê-se, no final de contas, que a necessidade delas não era assim tão grande”, defende o responsável.