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O rock e a cultura gnawa unem-se em Guimarães. A cortesia é dos Bab L’Bluz

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sábado, outubro 30, 2021
© Direitos reservados
A líder da banda franco-marroquina, Yousra Mansour, falou ao JdG sobre a criação do aclamado álbum de estreia, “Nayda!”, e o primeiro concerto em nome próprio em Portugal, este domingo, no CIAJG.

Da escuta da faixa de abertura de Nayda!, considerado o melhor álbum de 2020 na categoria de Fusão pela revista de world music Songlines, é possível extrair a ideia de cruzamento: o rock do trabalho inaugural dos Bab L’Bluz, vem à superfície à medida que “Gnawa Beat” progride, mas com nuances raramente visitadas nas seis décadas em que a linguagem é figura de proa da cultura ocidental. Ouve-se um som parecido ao de um baixo a controlar o andamento da canção, mas, na verdade, não o é; é um guembri, instrumento de três cordas utilizado na tradição Gnawa. Pelo meio, as vozes evocam os rituais religiosos daquela cultura classificada como Património Imaterial da Humanidade desde 2019, parte do mosaico social de Marrocos.

Tal como o nome sugere – Bab L’Bluz significa “portão para o blues” -, espera-se um domingo de encontros na black box Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), com o coletivo liderado por Yousra Mansour a apresentar-se a partir das 19h30 para o primeiro concerto em nome próprio em território português; depois do showcase de quinta-feira no Womex, a mostra de músicas do mundo do Porto, o espetáculo marca o encerramento da terceira edição do ciclo Terra, promovido pela Capivara Azul.

“É a nossa primeira vez num concerto em Portugal", revelou ao Jornal de Guimarães (JdG) a vocalista do quarteto. "Estamos muito contentes por atuar em Guimarães. As pessoas têm respondido favoravelmente à nossa música. Temos recebido algumas mensagens pelo Instagram de pessoas interessadas no nosso trabalho e no concerto. Temos boas expetativas”.

Também responsável pela percussão e pelo awicha, uma versão mais pequena do guembri que serve de guitarra, Yousra assume que a música tradicional do seu país e a cultura Gnawa a inspiram desde jovem, muito graças ao festival de world music de Essaouira, cidade costeira de Marrocos. A música Hassani, mais associada ao deserto do Saara, também a influencia, mas a transformação dessas sensibilidades em criação artística só arrancou há três anos, quando conheceu o guitarrista e produtor francês Brice Bottin, em Marraquexe.

 

 

Aprenderam guembri, juntaram-se depois a Hafid Zouaoui e a Jérôme Bartholomé, músicos radicados em Lyon e voilá: gravado nessa cidade francesa, o primeiro álbum dos Bab L’Bluz é lançado no início de 2020, com 10 canções. Yousra Mansour recorda um processo criativo que deu sobretudo prazer. “Não foi particularmente difícil. Houve inspiração e boa disposição", conta. "Não começámos este projeto com a ideia de que temos de trabalhar. Em primeiro lugar, queríamos criar música por prazer. Não fizemos as canções com a obrigação de sermos bem sucedidos. Tudo surgiu naturalmente”.

Bem recebido pela crítica, o álbum encontrou na pandemia de covid-19 a barreira que o separou da digressão que o iria dar a conhecer. Foi, sem dúvida, a maior dificuldade associada ao primeiro álbum, confessa Yousra Mansour. “Isso é que foi mesmo difícil, porque lançámos o álbum, mas não o podíamos apresentar. Antes de lançarmos o álbum, tivemos alguns concertos. Depois tivemos alguns concertos em setembro e outubro de 2020, mas a digressão só se realizou sem interrupções neste verão”, explica.

Embora concentrada na digressão, a banda já tem ideias para o segundo álbum. “Estamos a trabalhar em canções enquanto atuamos. Se trabalharmos bem, não vamos demorar assim tanto tempo. O álbum não deve estar pronto em 2022, mas no início de 2023”, referiu a artista ao JdG.

Os Bab L’Bluz atuam em Guimarães, depois de Selma Uamusse (Moçambique), AYOM (Brasil) e La Dame Blanche (Cuba) terem protagonizado os restantes concertos deste ano. Os bilhetes para o espetáculo custam cinco euros para portadores do cartão Quadrilátero Cultural e sócios da plataforma Gerador, 7,5 euros para menores de 30 anos e para quem tem descontos da cooperativa A Oficina, e 10 euros para o público em geral.

A edição de 2021 do ciclo vimaranense de world music distinguiu-se ainda pela inédita incursão pelo cinema, com as películas documentais brasileiras que têm a mulher como protagonista.

 

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