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A importância de sermos comunidade

Sara Martins Silva
Opinião \ quarta-feira, março 23, 2022
© Direitos reservados
Em caso de guerra, de tragédias, de catástrofes, é a comunidade próxima quem dá resposta, não são as organizações estatais. São os cidadãos ucranianos que estão na linha da frente da batalha.

A Europa está em guerra. Setenta e cinco anos depois do armistício que colocou um ponto final ao conflito que destruiu completamente o velho continente, voltamos a viver o medo e o terror de uma guerra que pode atingir proporções mundiais.

Estamos a viver a História e muito há para escrever sobre estes dias, sobre este conflito, sobre o sofrimento de ucranianos e russos, sobre as atrocidades e os crimes de guerra que estão a ser perpetrados, sobre a coragem de uns e a sociopatia de outros. Mas há também muito que só compreenderemos com a perspetiva que a distância temporal permite.

Das notícias que nos chegam podemos constatar desde já a importância de sermos comunidade, de nos juntarmos na prossecução de um bem comum, de participarmos, de servirmos e ajudarmo-nos mutuamente, conscientes de que somos parte de um conjunto que só funciona através da colaboração.

Numa escala macro, ser União Europeia. Nascida das cinzas da Europa pós-guerra, esta comunidade teve como ideal, uma Europa unida, pacífica e próspera. Estar na União Europeia é estar numa comunidade que apoia, suporta, ajuda, respeitando a independência, a cultura e valores dos seus integrantes. Tem aspetos negativos? Claro que sim, há muito por onde a UE tem de melhorar, mas as vantagens de estar nesta comunidade suplantam em muito as desvantagens.

Importa recordarmo-nos disso sempre que surgem aqueles discursos populistas e eurocéticos que tentam convencer-nos do contrário. E ser comunidade europeia é muito mais que fazer parte de uma organização económica e política, é partilhar ideais de liberdade, de humanismo e solidariedade. A forma como os europeus se têm mobilizado no apoio e solidariedade à Ucrânia mostra isso mesmo.

Numa escala menor, vemos, na forma homérica como se organiza a resistência ucraniana, a importância de sermos comunidade para sobreviver. O longo período de paz que a Europa atravessa tem o senão de nos fazer esquecer como ela, a Paz, é frágil e periclitante. Daí a importância de sermos e agirmos em comunidade. E ser comunidade é participar ativamente na vida pública, é ter uma voz crítica, interrogativa e presente.

É não ir no discurso do “não gosto de política” e “são todos iguais”, e arregaçar as mangas e fazer. É votar e exigir que as promessas feitas em campanha eleitorais sejam cumpridas. É pugnar pela representatividade e liberdade, mesmo daqueles com quem não partilhamos opiniões. É ser vigilante e denunciar a corrupção, mesmo a pequena, a do “tacho”, porque aí começam os grandes vícios. É ser exigente e inflexível no cumprimento dos direitos fundamentais. É cultivar uma mentalidade de comunidade, de conjunto, ao invés do individualismo, do corporativismo, do partidarismo.

É recusar o paternalismo estatal, demitindo-nos da responsabilidade de ajudar a nossa comunidade porque isso é o papel do Estado. Em caso de guerra, de tragédias, de catástrofes, é a comunidade próxima quem dá resposta, não são as organizações estatais. São os cidadãos ucranianos que estão na linha da frente da batalha, do socorro, do apoio, pessoas comuns que, até há umas semanas atrás eram professores, agricultores, médicos, desportistas.

Se há uma lição que podemos desde já retirar desta guerra sem sentido é de que todos nós temos um papel social na prevenção deste tipo de conflitos. Façamos a nossa parte para cuidar da Paz que tanto prezamos, sejamos comunidade.

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