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A quem serve a Turitermas?

Sara Martins Silva
Opinião \ quarta-feira, abril 27, 2022
© Direitos reservados
Enquanto cidadã, posso aceitar que a opção política da gestão da cooperativa termal não passe pela concessão a privados. No entanto, não posso aceitar nunca que a fiscalização não seja escrupulosa.

Nos últimos dias foi notícia que a empresa do médico Hélder Pereira terá movido um processo cível contra a cooperativa Turitermas, num valor que ascende a cerca de 460 mil euros, na sequência da rescisão de contrato por parte da empresa termal.

Recordo que as relações entre a cooperativa e o ortopedista taipense azedou depois deste denunciar o conflito de interesses que a compra de parte do capital social de uma clínica privada, nas Taipas, pela esposa do então presidente da direção Ricardo Costa, constituiria. Sendo a Cooperativa Taipas Turitermas uma organização pública, financiada com dinheiros públicos, o seu escrutínio tem de ser minucioso, exaustivo e sem zonas cinzentas. Enquanto colaborador e cooperante da Turitermas, e enquanto cidadão e contribuinte, Hélder Pereira tem o direito e o dever de denunciar o que considera serem atos de gestão prejudiciais para a cooperativa.

E a Câmara Municipal, enquanto proprietária de 94% da cooperativa, tem a obrigação de dar procedimento às denúncias, através de auditorias externas aos gestores nomeados. Acontece que, nesta coutada socialista, quem se mete com o PS leva e o médico taipense acabou afastado da Turitermas, apesar de ser um dos melhores médicos da sua especialidade e de atrair à cooperativa um grande número de pacientes. Pelo caminho, ainda foi notícia o processo de que o seu irmão, até então-secretário geral da Taipas Turitermas, moveu contra a cooperativa por assédio no local de trabalho.

Toda esta situação é kafkiana e, num país com um sistema fiscalizador sério, e com gestores públicos com sentido de Estado, não aconteceria. Acontece cá porque o poder instalado está tão enraizado que tem tiques de autoritarismo e acha que pode gerir uma empresa pública conforme os seus interesses e egos.

Convido-o, caro leitor a passar pelo site da Taipas Turitermas e a distrair-se um pouco com as prestações de contas que lá constam. No ano passado, por exemplo, a faturação da cooperativa ficou pouco acima de um milhão de euros, para uma estrutura de custos superior a 1 milhão e 600 mil euros. A diferença entre o deve e haver é, pois, coberta com subsídios públicos. Dinheiro dos nossos impostos, das taxas e taxinhas que a Câmara nos cobra.

Ideologicamente sempre defendi que a gestão da empresa termal taipense deveria ser privada. Aquela que é hoje uma despesa, e no caso vimaranense estamos a falar de mais de meio de milhão de euros/ano, passaria a fonte de receita. Investimento privado é sempre sinónimo de lucro para o erário público, seja em impostos, taxas, seja postos de trabalho, qualidade de vida das pessoas, etc. Além disso, ter um mais um ator na gestão, exploração e investimento da indústria do turismo no concelho traria outro vigor e atratividade.

Enquanto cidadã, posso aceitar que, ideologicamente, a opção política da gestão da cooperativa termal não passe pela concessão a privados, no entanto, não posso aceitar nunca que, tendo gestão pública, a sua fiscalização não seja escrupulosa, os seus gestores não sejam os mais competentes e que os interesses da cooperativa sejam subjugados a egos partidários.

O processo movido por Hélder Pereira contra a cooperativa seguirá o seu caminho nos tribunais competentes, a quem cabe o papel de julgar e pronunciar-se sobre a razão ou não do médico. No entanto, cabe-nos, cidadãos e contribuintes, o direito e o dever de fazer um juízo crítico sobre esta situação e sobre a forma como é gerido o património público. A quem serve despedir um dos médicos mais reputados da sua área? A quem serve uma empresa pública deficitária, que sorve mais de meio milhão de euros/ano?

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