Viajar pelo Médio Oriente
De volta à escrita, depois de um interregno de uns meses, por motivos profissionais.
Nestes quatro meses intensos, viajei por Israel, Estados Unidos, Reino Unido e Brasil. Desde já aviso que esta não é uma escrita sobre viagens, é mais do que isso: é sobre trabalho, mas com uma mistura de lazer; é tentar contar histórias; é transmitir emoções; é fazer com que sintam o que eu senti durante essas viagens.
Promover o vinho português pelo mundo é um trabalho cansativo, um trabalho de paciência, de persistência, horas em aeroportos, é um trabalho de loucos, feito por pessoas loucas.
Mostrar os nossos vinhos tranquilos ao mundo, quando Itália, França, Espanha ou mais recentemente o Chile têm uma máquina de marketing bem montada para os promover, é para pessoas com uma enorme vontade de acreditar e uma energia fora do comum, mas Portugal tem um grande argumento: a qualidade dos vinhos.
Desta reflexão, retiramos o Vinho do Porto e o Mateus Rosé, vinhos que todo o mundo conhece e bebe há muitos anos.
Mas este trabalho tem momentos singulares, lugares que nos surpreendem, que nos estimulam os sentidos e que compensam todo o stress de estar fora do país a trabalhar. Não podemos negar que cada viagem tem a força de nos marcar, de nos mudar um pouco, viajar para um lugar diferente, conviver com todo o tipo de pessoas, experimentar coisas novas, viver momentos únicos e incríveis, por tudo isto algumas viagens são tão marcantes, que ficam gravadas na nossa memória.
Hoje quero partilhar uma viagem que ficou gravada na minha memória, a viagem a Israel, mais concretamente a Telavive.
Telavive é uma cidade surpreendente, moderna, inclusiva, com muita agitação e animação, uma cidade com os problemas conhecidos, mas na qual os seus habitantes optaram por aproveitar os prazeres mundanos e viver como se não houvesse amanhã: os dias terminam com um mergulho no mar Mediterrâneo, que banha a estonteante praia urbana ou com um copo de vinho, numa das muitas esplanadas que ocupam o areal e observar o inesquecível pôr-do-sol do Médio Oriente.
Em Telavive fui encontrar um restaurante português, cujo dono é israelita, é cozinheiro e apaixonado por Portugal, pela nossa comida e pelos nossos vinhos.
O Tchernichovsy 6 fica numa rua estreita do centro de Telavive. À porta do restaurante, somos logo surpreendidos por uma enorme bandeira portuguesa pendurada na parede da esplanada. É um restaurante pequeno, mas aconchegante, com uma decoração onde predominam símbolos de Portugal, a apelar à saudade, essa palavra tão nossa.
O dono, Eyal Mermelstein, leva-nos num ambiente descontraído e familiar a saborear alguns pratos da nossa cozinha tradicional, recolhidos nas suas muitas viagens a Portugal, desde os bolinhos de bacalhau, ensopado de borrego, ensopado de carne à portuguesa, peixe assado no forno, sardinhas, salada de polvo, entre outros, pratos para uma harmonização com os vinhos portugueses.
Não digo que foi o melhor restaurante português que já visitei, mas foi com toda a certeza o único cujo dono não tem qualquer ligação a Portugal e português mal fala, mas o seu enorme amor por Portugal, torna este restaurante especial. Se forem a Israel não deixe de visitar. Eu espero voltar em breve para beber o meu vinho.
Fiquem bem!