Com vista para a cidade…
Como diz o ditado popular, “os olhos também comem”. No mundo da gastronomia a utilização desta expressão popular está associada ao acto de comer e à expectativa que uma determinada imagem de comida cria em nós. Corresponderá essa comida àquilo que imaginamos? Terá um sabor que nos vai surpreender? O aspeto e a apresentação no prato fazem jus ao seu sabor? Os nossos sentidos ficam em sentido, rendidos à nossa imaginação. Como escreveu um dia Rodrigo Meneses, “Somos quase Pavlovianos quando vemos uma boa foto de comida. Ficamos logo a pensar em qual será o sabor. Derretemo-nos pelas imagens e sonhamos com aquele momento em que a comida encontra a nossa boca pela primeira vez. Fechamos os olhos e sonhamos acordados com o sabor. Para que o tudo dure mais tempo.”
Um destes dias numa entrevista, perguntaram-me qual o meu restaurante de eleição. Pergunta difícil, já que são muitos os eleitos. A escolha de um restaurante depende do que no momento me apetece comer, depende da companhia, depende do dinheiro que estou disposto a gastar, escolher um é uma tarefa dos diabos, mas como tinha de dar uma resposta, lá fui ao meu memorómetro e escolhi o restaurante Ponto Final, em Almada.
Escolhi este restaurante, não tanto pela sua comida, despretensiosa, honesta, bem preparada e apresentada, mostrando um cuidado com os detalhes, pois como disse no início deste texto, os olhos também comem. Uma comida que satisfaz os olhos e o palato.
Se os olhos comem, também é verdade que nos fazem sonhar. A escolha deste restaurante não foi (tanto) pela comida, foi também pela sua localização. O Ponto Final é um dos restaurantes em Portugal com uma das vistas mais bonitas. O que realmente distingue o Ponto Final é a sua vista. Uma vista de cortar a respiração. A vista sobre Lisboa e o Rio Tejo é deslumbrante. Gosto de lá ir só pelo prazer ficar ao fim do dia sentado à mesa a contemplar o pôr do sol, com a cidade e o rio à minha frente, como se estivesse a olhar para uma bela pintura. Uma vista que relaxa e faz sonhar. Esta vista deslumbrante, combinada com a comida deliciosa, cria uma experiência verdadeiramente única.
Mas não sou o único, Phil Rosentahl no seu programa “Somebody Feed Phil” mencionou este restaurante pelo seu belo “sunset” e boa gastronomia. Esta menção teve tanto de bom como de mau, pois deu a conhecer ao mundo um restaurante que estava um pouco “escondido”. Hoje ir jantar ao Ponto Final sem prévia marcação significa ficar sujeito a ter de esperar uma hora. A boa notícia é que podemos aproveitar o tempo de espera para beber uma imperial (e não um fino, afinal estamos em Lisboa) e comer uns tremoços ou umas azeitonas sentados no cais a olhar para o rio. Saborear o tempo e imaginar.