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As eleições de 1877

Francisco Brito
Opinião \ sábado, agosto 21, 2021
© Direitos reservados
A influência sobre os eleitores exercia-se de várias formas. Os votos eram conseguidos pela preponderância dos candidatos em determinada zona do concelho e por uma intrincada rede de troca de favores.

Numa altura em que se aproxima um novo acto eleitoral partilho, a título de curiosidade, uma breve história das eleições para a Câmara Municipal de Guimarães em 1877.

Em 1877 concorreram à Câmara de Guimarães os dois partidos que então dominavam o espectro político local e nacional: o Partido Regenerador (liderado em Guimarães pelo Conde de Margaride e com uma forte implementação local) e o Partido Progressista (criado em 1876 e cuja estrutura local era liderada pelo Conde de Vila Pouca).

O Conde de Margaride havia começado a consolidar o seu poder em 1870 e em 1877 era a figura mais poderosa da política local (já tinha sido Governador Civil de Braga e a sua facção dominava a o poder municipal vimaranense desde 1870). O Conde de Vila Pouca, oriundo de uma família que ocupava cargos no município pelo menos desde o século XVII, havia sido convidado em 1876 para formar o “Centro Progressista de Guimarães” e estreava-se nas grandes disputas da vida política local com a eleição de 1877.  

Naquela época o direito ao voto era censitário e limitado (isto é, estava condicionado a um determinado nível de rendimento e/ou literacia). Para ser cidadão de pelo direito certos requisitos deveriam ser cumpridos, caso contrário não se poderia votar nem ser eleito (o sufrágio não era universal e era exclusivamente masculino). Portanto, numa eleição, para além de se discutirem as propostas para o concelho e os méritos e deméritos dos candidatos, a capacidade de controlar os votos era algo fundamental.

A luta pelo voto começava desde logo na “Comissão Recenseadora”, onde era aferido quem podia votar. Depois, a influência sobre os eleitores exercia-se de diferentes formas. Os votos eram conseguidos através da preponderância dos candidatos numa determinada zona do concelho (conseguida pelo seu poder económico ou prestígio pessoal e familiar) e por uma intrincada rede de troca de favores (na altura a obtenção de um emprego público ou a isenção do serviço militar eram determinantes nesta matéria). A elaboração das listas para a Câmara era feita não só tendo em conta a competência daqueles que iriam ocupar cargos na futura vereação, mas também não esquecendo a capacidade que os candidatos tinham de influenciar o eleitorado.

Margaride apresentou uma lista fortíssima que contava com alguns dos mais ricos e importantes proprietários e comerciantes do concelho. Vila Pouca também conseguiu reunir alguns nomes com prestígio, ainda que com pouca capacidade de mobilização…

Os progressistas (liderados por Vila Pouca) apontavam-se como uma boa solução para o concelho uma vez que eram do mesmo partido que então estava no Governo… Como crítica ao executivo municipal apontavam a imundice da cidade, a estagnação do concelho e a “paralisação do progresso”. Já os regeneradores (liderados por Margaride) tinham alguma obra feita nos anos anteriores a que juntavam promessas de novas concretizações (o que em conjunto era um importante trunfo eleitoral).

Nos jornais locais o debate era muito agressivo e os insultos pessoais eram recorrentes (não existia qualquer espécie de censura na imprensa local e nacional).

Depois de uma dura campanha, as eleições terminaram com a expectável vitória de Margaride e do Partido Regenerador. Mas as acusações de parte a parte marcaram o fim do acto eleitoral. No rescaldo das eleições o “Religião & Pátria” (jornal afecto aos regeneradores) fala nas atrozes violências cometidas pelos progressistas (intimidação de eleitores). E o “Imparcial” (periódico progressista) não se coibiu acusar o partido vencedor de ter comprado votos afirmando que “o dinheiro distribuiu-se sem escrúpulos, acompanhado de promessas lisonjeiras que nunca serão cumpridas”.

Foram assim as eleições de 1877.

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