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Central de autocarros, a feia e decadente sala de chegada a Guimarães

Sara Martins Silva
Opinião \ domingo, setembro 17, 2023
© Direitos reservados
Andar de autocarro não deveria ser uma prova de obstáculos. Promover a utilização de transportes colectivos deve ser uma política pública prioritária.

A utilização do autocarro como meio de transporte tem aumentado nos últimos tempos. A baixa no preço dos passes sociais, o aumento de rotas, as constantes greves nos comboios e o advento de empresas low cost em Guimarães, fazem com que o autocarro seja, e bem, cada vez mais, o meio de transporte utilizado, por vimaranenses e turistas, para chegar à nossa cidade. Para quem chega e a primeira coisa que vê é a estação central de camionagem a imagem que fica da cidade não é a melhor. Suja e decadente, a central dos autocarros não reflete a revolução no transporte público anunciada pela vereadora municipal.

Mas o problema não se resume à estética e conservação. Sem qualquer sinalética informativa, apanhar um autocarro na central de camionagem é semelhante a jogar à roleta, temos 32 cais, onde apostamos que o autocarro vai parar? A que horas é o próximo autocarro? Que empresa faz a linha para Braga, ou para o Porto, ou para Cabeceiras? Onde pára o autocarro que vai para Fafe? É ver a quantidade de pessoas, com ar perdido, e sem saber onde pedir ajuda, que deambulam pela central de camionagem, e a quantidade de pessoas que perdem o autocarro por falta de informação sobre o cais.

Andar de autocarro não deveria ser uma prova de obstáculos. Promover a utilização de transportes colectivos deve ser uma política pública prioritária, quer pela questão ambiental, quer pela gestão e diminuição do tráfego dentro e de acesso às cidades, quer pela qualidade de vida dos cidadãos. No entanto não basta entregar a concessão a um privado, comprar autocarros novos com uns milhões vindos da UE, e depois descurar o básico. As pessoas não gostam do desconforto do desconhecimento. Quando nem na central se tem acesso à informação básica, a percepção que fica é de que andar de autocarro é algo muito complicado.

No início da nova concessão, em 2022, a câmara anunciou com muita pompa os novos veículos e o facto da Guimabus, empresa privada do grupo Vale do Ave, ter a maior frota de autocarros elétricos do país. É uma pena as fotos que ilustram estas notícias não terem sido tiradas na central de camionagem, que o município gere. As paredes sujas, o tecto a ameaçar ruir, as goteiras, a completa falta de informação seriam o cenário perfeito para ilustrar a negligência do município na manutenção daquele espaço.

Segundo o regulamento da central de camionagem, disponível no site da câmara municipal de Guimarães, a responsabilidade da “conservação e manutenção do edifício” e a colocação de “sinalização, painéis informativos e sistema audiovisual” (artigo 28º) é do município. O regulamento, elaborado e aprovado pelo município, reconhece a importância da disponibilidade de informação e prevê a colocação, por parte da câmara de “um quadro de informação permanente de horários de partidas e chegadas das carreiras, respectivos cais de embarque e paragens mais importantes do percurso” (artigo 8º). É uma afronta e imoralidade a câmara não cumprir os regulamentos e regras que ela mesma faz!

Os políticos andam sempre “à cata” de fundos europeus para construir novos e colossais equipamentos (que tantas vezes acabam como elefantes brancos), cumprindo a velha premissa de que governar é inaugurar betão, e são incapazes de pugnar pela manutenção e conservação dos espaços, seja por falta de dinheiro, seja, como no caso da central de autocarros, por puro desmazelo e incúria.

Nota: Ignorei propositadamente o caos que é a zona (ou falta dela) de largada e recolha de passageiros na frente da central, por falta de espaço nesta página.

[ndr] Artigo originalmente publicado na edição de setembro do Jornal de Guimarães.

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