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Cheque… quase mate

Sara Martins Silva
Opinião \ terça-feira, outubro 18, 2022
© Direitos reservados
A vitória de Ricardo Costa sobre a candidata apoiada pelo presidente da Câmara na concelhia do Partido Socialista mostrou que o fim do ciclo de Domingos Bragança já começou.

No passado dia 8, o poder foi a votos em Guimarães. Numas eleições a que a esmagadora maioria dos vimaranenses não tiveram acesso, ou desconhece sequer que aconteceram, decidiu-se, muito provavelmente, o mapa de poder no concelho para os próximos anos.

Há uma frase geralmente atribuída a Lincoln que diz algo como “se queres ver o caráter de um homem dá-lhe poder”: a luta pelo poder em Guimarães, protagonizada pelos socialistas, ilustra bem o significado desta afirmação. Num enredo digno de uma produção da Netflix, assistimos a traições, alianças entre inimigos, decapitações morais, há de tudo numa novela que em nada dignifica a democracia e os seus protagonistas.

Mas, afinal, o que é o poder? Fiquemo-nos pelo conceito de que é a capacidade de impor a vontade sobre os outros. Essa imposição pode ser exercida de várias formas, e ter uma natureza coerciva ou inspiracional. O que distingue um bom líder é a natureza do seu poder. Alguém que lidera com base no autoritarismo e na coerção não é um líder e o seu poder está apenas e só no seu cargo. Já alguém que lidera inspirando outros é alguém que tem poder, independentemente do cargo que possa ou não ter, e estes são os verdadeiros líderes.

Nos últimos anos, Guimarães teve dois líderes que exerciam o poder de forma autoritária. António Magalhães exercia o seu cargo com tal autoritarismo que teve, por exemplo, a petulância de nunca receber o executivo da Junta de Freguesia das Taipas, por não aceitar o resultado eleitoral, confundindo o poder do presidente da Câmara com o seu ego e vontade pessoal. O seu estilo de liderança rígido, severo, nada democrático, levou a que granjeasse poucas simpatias e, com o fim dos seus mandatos, por imposição legal, chegou também ao fim o seu poder. Magalhães não foi o líder carismático que inspira as pessoas a seguirem-no, o seu séquito era-o por coerção. Quando deixou a presidência da Câmara de Guimarães, ninguém agitava bandeiras atrás dele.

Já Domingos Bragança quis assumir-se como a boa nova, o amigo depois do vilão. Começou qual miss simpatia a prometer tudo a todos. Durante uns tempos viveu-se uma primavera em Guimarães, acreditava-se que os tempos pós-Magalhães seriam melhores, mais leves, mais democráticos. Foi sol de pouca dura. Depressa se percebeu que Bragança não era melhor que Magalhães no exercício do poder, pelo contrário. As promessas nunca cumpridas, as expectativas sempre defraudadas, a vontade de querer cortar com a imagem do seu antecessor dando palco a novos atores, levaram a fraturas e guerras internas no partido que se sentiram na câmara municipal.

O poder de Domingos Bragança começou a acabar no passado dia 8. A vitória de Ricardo Costa sobre a candidata apoiada pelo presidente da Câmara na concelhia do Partido Socialista mostrou que o fim do ciclo de Domingos Bragança já começou e que também ele será o tipo de líder que deixará de o ser com o término do mandato. A três anos do fim, os seus seguidores começaram já a dispersar, adivinhando-se um final muito solitário para alguém que está no poder há demasiados anos.

É Ricardo Costa quem aparece como a nova esperança. Ricardo Costa não será o líder carismático, mas é o mártir, aquele a quem expulsaram, injustamente e de forma pouco correta, do poder. E o povo adora um bom mártir, por isso Ricardo Costa conseguiu mobilizar seguidores não pela força ou pelo autoritarismo, mas pela inspiração e esperança numa nova forma de poder. Deram-lhe poder, resta saber como ele se comportará.

O poder em Guimarães está em cheque, aguardemos as próximas jogadas para perceber quem fará o mate.

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