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E passaram três anos…

Nuno de Vieira e Brito
Opinião \ segunda-feira, abril 22, 2024
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É um enorme gesto de coragem a publicação de uma revista como a que o leitor percorre, em particular, quando existe a tendência de substituir o papel pelo digital, leituras rápidas e pouco profundas.

É um enorme gesto de coragem a publicação (também em formato papel) de uma revista como a que o leitor percorre, em particular, quando existe uma tendência de substituir o papel pelo digital, de leituras rápidas e pouco profundas, de temas ligeiros e que não estimulem demasiado o pensamento ou as preocupações. Adicione-se a um meio que apesar de ter sido Capital Europeia da Cultura, não estimula as tertúlias ou a diversidade de opinião, mantendo algum centralismo editorial ajustado às opiniões de Santa Clara.

Só por isso, o Jornal de Guimarães está de parabéns. Mas muito mais do que isso, a liberdade que permite aos diferentes colaboradores, de diversas sensibilidades ideológicas, de emitir as suas opiniões, sem qualquer comentário ou limitação, e escolha de temáticas que são, hoje, determinantes para a construção de uma sociedade que se pretenda desenvolvida (não apenas numa perspetiva económica), exemplificam o conceito de liberdade de imprensa, sem condicionalismos a outros interesses, sejam ele políticos, económicos ou de grupos no poder.

E pouco tempo será para avaliar evoluções em áreas como as que temos abordado até ao momento. Tempo necessitamos na agricultura, atividade que neste mesmo tempo tem sido ignorada quer a nível local, quer a nível nacional. Boas noticias a de nível nacional, com o fim da inépcia governamental que teve a unanimidade de todos os parceiros e, mesmo, de correntes do próprio partido do Governo. Mas a nível local, existe uma preocupação sobre politica agrícola, ocupação de solos rústicos e florestais e produção de alimentos?

Na verdade, a definição de estratégias locais é muito mais do que anúncios, boas intenções e organismos que, genericamente, são ocupados por proximidade politica e menos por conhecimento ou competência reconhecida. Não vou questionar, novamente, sobre o impacto da Incubadora de Base Rural em projetos (nº e valores) que transformaram Guimarães, se bem que a transparência deveria ser um pilar do nosso quotidiano. Muito menos a influência de outras organizações, gestoras de fundos de desenvolvimento rural, no apoio a projetos verdadeiramente agrícolas ou agroambientais, em detrimento de outros que não se comprometem com a valorização do nosso tecido rural. Ainda, reconheço, que festas e romarias não vão faltando, mas o substrato, o pensamento, a estratégia ainda se encontra, provavelmente, em fase de estudo.

Uma reflexão mais. Necessitamos, como é obvio, da agricultura como produtora de alimentos e o fomentar da produção agrícola também se faz pela dinamização dos produtos de Guimarães. Ora, é no mínimo incompreensível que em roteiros pelos nossos restaurantes não encontremos, na sua maioria, os nossos produtos locais, seja na confeção das suas ementas seja nos diversos produtores de vinho. Numa cidade com vincado pendor turístico, a gastronomia e vinhos são um fator distintivo que marca a escolha do visitante. Esta marcada sintonia permite maior afluência, permanência e valor ao território.

Mas não se esgotaria pelo incentivo ao consumo local dos vimaranenses e da restauração, o apoio à produção local. Cantinas e refeitórios deveriam ser exemplo desta prioridade, fornecendo produtos sazonais, frescos, de elevada segurança alimentar e que se reflete também em questões ambientais, como na obtenção da pegada zero. Nada que outras autarquias não o façam já e, felizmente, agora suportado num acordo entre uma Confederação de Agricultores e a Associação de Municípios.

Não menos relevante, a produção agrícola (ou agropecuária) sustentável é também um importante fator de gestão do território. Áreas ambientalmente ricas e fundamentais para a sobrevivência humana, promotoras de biodiversidade e sumidoras de carbono, o seu ordenamento deve ser corajoso, através de um Plano Diretor Municipal que proteja as zonas agrícolas de interesses vários ou de decisões precipitadas, pouco estudadas, que são irrevogavelmente destrutivas. E, com o nosso presente imediatismo, apenas se poderá proteger as zonas agrícolas se estas forem cultiváveis e, para tal, a agricultura tem também de ser uma considerada uma política pública.

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