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Entre a sombra e a esperança

Pedro Carvalho
Opinião \ terça-feira, agosto 12, 2025
© Direitos reservados
A instabilidade no banco, para além de ter reflexos no desempenho dos atletas, transmite ao adepto a sensação de que não existe uma estratégia coerente.

Este é um início de campeonato sob a sombra e a esperança.

O arranque da nova edição da Primeira Liga, que habitualmente desperta entusiasmo, este ano ficou marcado por um silêncio pesado. As mortes inesperadas de Diogo Jota, jovem talento que encarnava o presente e futuro do nosso futebol, e recentemente a morte também prematura de Jorge Costa, símbolo de liderança e de entrega apaixonada ao clube que representou, abalaram a comunidade desportiva e lembraram-nos que, para lá das quatro linhas, o futebol é feito de pessoas, histórias e sonhos que por vezes se interrompem demasiado cedo. Estas tragédias deixam um vazio que nenhuma vitória poderá preencher, mas também nos desafiam a viver o desporto com mais humanidade e respeito.

No plano desportivo, o Vitória Sport Clube chega a esta temporada entre a expetativa e a apreensão. A sucessiva mudança de treinadores nos últimos anos tornou-se uma espécie de marca negativa do Clube. Em vez de estabilidade, o clube vive ciclos curtos, quase experimentais, que impedem a construção de um projeto sólido. Um treinador precisa de tempo para conhecer os jogadores, implementar ideias e criar rotinas. A instabilidade no banco, para além de ter reflexos no desempenho dos atletas, transmite ao adepto a sensação de que não existe uma estratégia coerente.

A par disto, a profunda reformulação do plantel é um sinal de renovação, mas também de risco. É inevitável que jogadores entrem e saiam, mas quando as alterações atingem o núcleo da equipa, o tempo de adaptação pode custar caro, e se entretanto ainda sair algum outro jogador chave, como Tiago ou Händel, o reflexo desportivo pode ser bastante negativo. Acresce que não basta contratar por contratar — é preciso garantir qualidade, compatibilidade e liderança dentro de campo.

Entre as carências mais evidentes está a falta de um ponta de lança de referência, que não existe há pelo menos três épocas, uma vez que Butzke, “Chucho” Ramirez, Nelson Oliveira e Bica não foram e não são esse ponta de lança de que qualquer equipa carece. Nem o André Silva era, apesar de muito ter feito numa posição que não era a sua, tal como acontece com Gustavo Silva. No futebol moderno, a eficácia ofensiva decide campeonatos e define objetivos. Um goleador nato, capaz de marcar em momentos decisivos, não é um luxo, é uma necessidade. Sem ele, as boas jogadas e a posse de bola podem transformar-se em frustração repetida. E temo, apesar de ainda ser cedo, que Ndoye também não venha a ser esse goleador.

Este início de campeonato é, assim, uma encruzilhada: o luto que nos lembra a fragilidade da vida, a instabilidade técnica que teima em repetir-se e a esperança de que as opções tomadas fora de campo permitam ao Vitória SC ter uma época consistente e competitiva que assegure, no mínimo, um apuramento europeu, apesar de já ser exigível mais. Cabe à Direção transformar esta temporada num ponto de viragem, onde a emoção e a paixão das bancadas encontrem correspondência na organização e na eficácia dentro das quatro linhas.

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